terça-feira, outubro 18, 2005

1964-2003

Se fosse vivo teria a minha idade. Passou toda a sua vida exibindo o seu mau génio, como um dos símbolos de Barcelona (eleito compulsivamente). Apresentava-se normalmente de costas voltadas para o público, espiando ocasionalmente por cima do ombro, com um olhar de desprezo impressionante. Quando se voltava, era normalmente para arremessar excrementos contra a populaça que o observava, por sorte protegidos por um grosso vidro. Era majestoso, altivo, como um grande rei africano. Vimo-nos cara a cara uma vez, e fitámo-nos mutuamente, o seu olhar arguto impunha um respeito impressionante. Uma vida de cativeiro nunca esmoreceu a sua altivez e a sua dignidade, e a sua revolta. Quis o destino que a causa do seu destaque fosse a causa da sua morte. Pela sua condição de albino contraiu cancro de pele. Mas como desde bebé lhe foi negado o direito básico da liberdade, pelo menos teve direito àquilo que é negado a muitos humanos: a eutanásia.

Cumprem-se 2 anos após a sua morte, e queria aqui prestar a minha mais humilde reverência a um símbolo de majestade constante num cativeiro ridículo. Posted by Picasa

4 comentários:

SDF disse...

Belo símbolo de dignidade.

E esmagadoramente belo em termos estéticos. Sempre encontrei uma beleza enorme na diferença, na invulgaridade de caracteriristicas dentro de uma espécie.

Chamem-me tontinha, mas sempre achei o monstro da série de TV "A bela e o monstro" extremamente atraente (pronto, eu sei que o facto de ele ter uma face meia felina ajudou, porque adoro gatos!)

Porque será que a diferença gera sempre atitudes extremas de atracção ou repúdio? Porque não conseguimos aceitá-la e tratá-la com naturalidade e serenidade? Porque obrigamos sempre os portadores das diferenças a viver quase escondidos e em constante fuga das manisfestações de qualquer um desses nossos extremos?

E eu não sou diferente na minha atitude - apenas tenho tendência a colocar-me no extremos oposto da maioria, mas não deixa de ser um extremo e não deixa de ser também desadequado...

A Burra Nas Couves disse...

A importância de conhecer os extremos, reside no facto de se avaliar melhor o que existe no meio

Cravo a Canela disse...

Agora chegou a minha de vez de "abandalhar" tudo. Eu extremos assim de repente só me lembro so Simão e do Geovanni, e no meio, claro, Nuno Gomes!

Admitam, uma parvoíce de vez em quando sabe bem...

Rogério Charraz

SDF disse...

Claro que sabe! Concordo contigo em termos "filosóficso" embora não faça a mínima sobre quem estás a falar no exemplo com que ilustraste a coisa! LOL