sábado, setembro 24, 2005

Afinal a jiboia era outra!

Primeira gripalhada do pós-férias! Assim a modos como a dizer-me "já estamos no outono, deixa lá os chinelos, e calça-te alguma coisa que agasalhe mais os chispes". Pois é, e quem é que diz agora aos pés para se enfiarem dentro de tenis, sapatos ou botas, quando estão desde Maio, alegremente "laureando a pevide" ao léu, com os chinelitos? Sim, os mesmos chinelitos-de-enfiar-o-dedo que há 30 anos só os pobres e desleixados usavam, hoje são ostentados como uma peça de roupa indispensável ao mais fashion dos veraneantes. Aqui chamam a isso, favela-fashion. Ainda não percebi se é uma piada de mau-gosto, se é pura ignorância. Para mim, é o conforto.
Com esta idade, e ainda tenho dúvidas quanto aos sinais do corpo. A mandriice que me vinha atacando há uns dias, não era senão a costumeira gripite do equinócio, que sempre me apanha à traição no outono, ou na primavera. Naquelas alturas absurdas que nunca se sabe o que vestir, e que se resiste até à ultima na indumentária estival.
A propósito de sinais do corpo. Eu já tinha conhecimento do modus operandi sueco, Sandra. O que se passa é que o autor deste livro fala de nórdicos, mas refere-se a alemães, ingleses, belgas, holandeses e quejandos. Não me parece que os suecos, finlandeses e noruegueses estejam englobados nesta definição. Até porque a sua filosofia de vida, muito pouco tem a ver com eles. O autor do livro tenta explicar algo que é uma tendência natural da essência de cada povo. Os nórdicos de que ele fala, tem uma adoração pelo trabalho, pela organização, pela productividade, e pela eficiência. Valores, que de uma maneira geral, são um pouco estranhos aos povos mediterrâneos, mais peritos no ócio criativo, como a convivência, as artes, a gastronomia, e outras coisas que tais. Obviamente que tudo isto de uma maneira muito geral.
Mas disso já tinha falado bastante o nosso querido Agostinho da Silva, que embora estivesse certo no seu raciocínio, por vezes carecia de um certo realismo. É que o ser humano é bastante surpreendente, mas normalmente surpreende para o pior, muito mais do que para o melhor.
Pessoalmente, sempre achei que o esforço industrializante do Portugal pós-CEE era ridículo, pois tentar competir em quantidade com Alemanha, França, Reino Unido, e até com Espanha, era na melhor das hipóteses dar um passo muito maior do que a perna. Muito melhor teria sido apostar numa produção pequena, mas de qualidade, nomeadamente na agricultura (em vez disso, practicamente se aniquilou), e vendê-los como delicatessen, com denominação de origem, a exemplo do que fizeram os belgas e os suiços com o chocolate, que nem sequer é originário de lá. Muito melhor teria sido apostar por uma oferta turística de qualidade a preço acessível, e não deixar fazer o que fizeram com o Algarve, e pelos vistos, o que estão a fazer no litoral alentejano. Mas não, há sempre a tendência saloia de se pôr em bicos de pés, sem sacar proveito da nossa própria dimensão. Sou português, mas sinceramente, nunca entendi o meu povo. É-me extremamente difícil explicar aqui aos meus amigos o que é Portugal e os portugueses, ficam sempre sem perceber nada, e eu idem.

Mudando de assunto. Festas da Mercè. A festa maior da cidade de Barcelona, a que eu pela primeira vez me juntei, como convidado do grupo Bazar. Teve um gostinho especial tocar na Plaça Catalunya, mesmo em frente do edifício, onde há 2 anos e meio tive uma das piores experiências laborais da minha vida, trabalhando no departamento português das cobranças de contas visa do Citibank. O trabalho em si já era horroroso, mas uma sub-chefe gratuitamente déspota e arrogante, completava o quadro, como uma ginja em cima do bolo. Esta gente continua a acreditar que a productividade se consegue à custa de má-onda e intolerância. Nessa época, tinha iniciado recentemente a 2ª guerra do Golfo, e as manifestações na cidade eram diárias, e as concentrações na Plaça Catalunya, também. Sentia-me a trabalhar para o inimigo.

quarta-feira, setembro 21, 2005

Preguiça Productiva

Afinal parece que a preguiça produz alguma coisa. Mais que não seja o encontro (ou reencontro, não percebi bem), entre 2 postantes habitués aqui da Burra. E é que para mim o encontro tertuliante entre pessoas é do melhor que há. Ainda que sejam 2 pessoas que infelizmente não conheço pessoalmente, são sempre benvindos.
Não sei se a propósito ou não, mas comprei um livro num alfarrabista por 1€, cujo título é "La Mediterrània i els bàrbars del Nord", e como subtítulo a jeito de explicação diz: "Els nòrdics ens han industrialitzat el món, propiciant una nova societat de l'oci on els esclaus seran les màquines. Ha arribat l'hora de tornar a l'ideal epicuri i humanista de la Mediterrània". O título chamou-me a atenção, por uma frase minha, constante em discussões filosofico-políticas com norte-europeus. Principalmente quando faziam comentários desagradáveis acerca dos povos do sul da Europa. Apenas lhes lembrava que historicamente está provado que do norte da Europa nunca veio nada realmente aportador e inovador para a humanidade.
Ainda sobre livros, ontem recebi uma prenda de valor incalculável para mim. Os meus queridos pais enviaram-me por correio, uma edição de 1974 das obras completas de Guerra Junqueiro. Delicio-me sempre ao ler os versos da "Velhice do Padre Eterno", infelizmente não há versão traduzida aqui deste lado, portanto faço o possível por partilhar a genialidade do poeta com os meus amigos daqui.

Nota final: hoje a jibóia transformou-se em dor de cabeça fulminante, e quase nem saí da cama! Nem consegui ler o Guerra Junqueiro.

terça-feira, setembro 20, 2005

A Preguiça

Ataca sempre de mansinho, como uma jibóia que se enrola à volta do pescoço. E sempre me apanha quando mais preciso de estar desperto e activo para afrontar o novo ano de trabalho. E quanto mais tento resistir, mais me aperta.