quarta-feira, outubro 12, 2005

segunda-feira, outubro 10, 2005

Defesas anti-aéreas

Rapazes e raparigas, comentadores e comentaristas habituais e eventuais deste blog. É com grande pena minha que me vejo obrigado, eu também, a pôr a verificação de letras (o tal word verification, embora as words sejam muito esquisitas) quando voxelências se dignam a comentar o que acham digno e oportuno de tal coisa. É que neste preciso dia, em que muitos de vocês devem estranhar tamanha febre "postal" minha (estou em casa com gripe), este vosso blog servidor foi bombardeado por infames comentários publicitários. Assim, para que tanto vocês, e principalmente eu, nos vejamos livres desses bombardeios vejo-me obrigado a forçá-los a este pequeno incoveniente, para que o ar continue respirável aqui no curral da Burra. Só esperamos (eu e a Burra), que isso não vos atemorize ou esmoreça os vossos sempre benvindos comentários. Como dizia o outro, da discussão nasce a luz, e como dizia a saudosa Drª Rute Remédios "As opiniões são como as vaginas, cada um tem a sua e quem quiser dá-la, dá-la!!". Bem haja a vossa compreensão.

Os destroços já foram removidos pelas brigadas de limpeza, o caminho está livre!

A vista que eu tinha da janela quando trabalhava no Citibank, na Pla�a Catalunya, em Mar�o de 2003 Posted by Picasa

Meninos & Meninas

Desculpem lá, mas ao ler uma posta da Sandra Feliciano, não pude deixar de reflectir sobre o assunto. Ou sou eu que arrogantemente estou num estado superior da evolução humana, como várias vezes me foi apontado, ou então nasci no país errado, e às vezes suspeito que no planeta errado, também. Não entendo como é que toda a gente se põe “em bicos-de-pés” dizendo que estamos no século XXI, e tal, e a evolução tecnológica, e mais não sei quê, e a evolução social, e o ocidente e o oriente, e os direitos humanos, e os direitos dos animais, e salvem a terra, e a baleia, e a formiga d’asa, e mais não sei quê. É que ainda se anda a discutir as coisas das mulheres e as coisas dos homens, e ainda se anda a falar das mulheres como se tratassem duma minoria étnica em vias de extinção. Ora, se bem me parece, penso que a nível mundial existem muito mais mulheres que homens. Então? Que é que falta?
Pode ser que seja muito pretenciosismo da minha parte, mas eu tenho amigos homens, mulheres, negros, mulatos, indianos, cegos, deficientes motores, homossexuais, lésbicas, àrabes, velhos, jovens, e nunca tratei ninguém diferente pela condição daquilo que é, mas sempre por quem é. Há gente extraordinária de todos os formatos e feitios e cores, assim como existem pessoas extremamente estúpidas nas mesmas condições, ainda que aqui em Espanha tenham tendência para se agruparem todas no PP, o que facilita o reconhecimento.
Andar nos dias de hoje a debater o que é das meninas e o que é dos meninos, é, para mim, perfeitamente absurdo, ainda que concorde que tristemente, continua a ser necessário. As mentes iluminadas da nossa sociedade debatem ferozmente estas e outras questões, e no final voltam todos às suas respectivas cavernas.

Resultado das Eleições

"Raede Ceasare quae sunt Ceasaris", "Raede Populum quae sunt Populis"

E depois ainda há quem me pergunte o que é que eu faço aqui. Não sei! É que até nova ordem só tenho esta vida para viver, e o D. Sebastião nunca mais chega, e já lá vão 400 anos. Começo a suspeitar que os políticos portugueses são uma mutação. Em vez de estômago têm papo.

domingo, outubro 09, 2005

Ainda o 3º Aniversário

Ainda a propósito destes 3 anos que passaram, queria deixar-me das inevitáveis queixinhas, e falar sobre aquilo que aprendi, e de que me lembro.
O primeiro mês foi a incógnita total. Quase não consegui dormir, entre a excitação de toda a vida pela frente para consolidar coisas, e o facto de estar a morar entre a calle Aragón (que tem 6 faixas de trânsito) e a Avenida Diagonal (outras tantas). Lembro-me que o casal que morava no andar de cima fazia amor pontualmente à uma e meia da manhã, quase como quem escova os dentes antes de dormir. Vinha-me sempre à memória uma canção da Joni Mitchell:" The Crazy Cries of Love".
Depois o princípio duma nova rotina, começando a dar aulas na escola Passatge. Começando a aprender a dar aulas. O aperto de ver o meu dinheiro a chegar ao fim, e a salvação que constituiu a minha entrada no departamento de cobranças de visa no Citibank, departamento de Portugal. A seguir o desencanto. Começa a guerra do Iraque, lá fora a população manifestava-se, e eu sentindo-me como um traidor a soldo do inimigo. Três semanas depois era despedido duma maneira ignóbil, como é uso e costume deste tipo de instituições “respeitáveis”. Quanto mais “respeitáveis”, mais ignóbeis os seus procedimentos.
Foi também o conhecer um novo universo e novas culturas: a catalã, a espanhola, e principalmente a latino-americana. A latino-americana por mão dos meus amigos argentinos, chilenos e venezuelanos. Constatar como Espanha mantém fortes laços culturais e económicos com as suas ex-colónias, e compará-lo com o “virar de costas” do estado português às suas. Ver como os actores, escritores, pintores e músicos espanhois são conhecidos e apreciados na América Latina, e vice-versa, constituindo assim um mercado cultural quase inesgotável.
Foi aproximar-me ao flamenco, que desde sempre me havia seduzido através de Paco de Lucia e do seu grupo, e descobrir todo um universo de cores e sons, muito mais aberto do que eu pensava.
Foi também aproximar-me à cultura marroquina, através dos meu alunos dum centro de jovens em Terrassa. Descobrir que afinal não somos tão distantes, nem na religião, nem na cultura. Descobrir de onde vieram certos ritmos portugueses. Descobrir que eles podem estar um pouco atrasados, mas que são iguais ao que nós éramos há 30 anos atrás.
Foi aprender que no bairro onde vivo, podem conviver diferentes etnias, religiões e culturas em relativa harmonia, unidos pela comum condição de imigrantes, e que é tão fácil ser simpático. E como este fenómeno está a mudar a face da cidade.
Muitas vezes me perguntei porque é que a Europa rejeita tão veemente a integração dessas novas culturas que vêm até ela, desaproveitando uma oportunidade de ouro para uma regeneração que se anuncia urgente e já tardia?
Nesse sentido, tudo parecia bem em Portugal a princípios dos anos 80, e que a pujante exuberância e creatividade das pessoas que recentemente tinham chegado das também recentes ex-colónias estava a contagiar beneficamente a sociedade portuguesa. Depois, veio a entrada na CEE, e os sucessivos governos cavaquistas, e as cores empalideceram, e se acinzentaram. Um amigo meu argentino disse-me que é o medo a crescer, que é o medo a mudar uma estrutura que de tão velha já cai aos bocados, e que desesperadamente se tenta manter a todo o custo. Mesmo a custo de esquecer velhas querelas de séculos e criar uma união.

Os nossos poetas

Um amigo meu mandou-me isto por emilio. Que é que vos parece?


Esta é a ditosa pátria minha amada. Não.
Nem é ditosa, porque o não merece.
Nem minha amada, porque é só madrasta.
Nem pátria minha, porque eu não mereço
A pouca sorte de nascido nela.

Nada me prende ou liga a uma baixeza tanta
quanto esse arroto de passadas glórias.
Amigos meus mais caros tenho nela,
saudosamente nela, mas amigos são
por serem meus amigos, e mais nada.
Torpe dejecto de romano império;
babugem de invasões; salsugem porca
de esgoto atlântico; irrisória face
de lama, de cobiça, e de vileza,
de mesquinhez, de fatua ignorância;
terra de escravos, cu pró ar ouvindo
ranger no nevoeiro a nau do Encoberto;
terra de funcionários e de prostitutas,
devotos todos do milagre, castos
nas horas vagas de doença oculta;
terra de heróis a peso de ouro e sangue,
e santos com balcão de secos e molhados
no fundo da virtude; terra triste
à luz do sol calada, arrebicada, pulha,
cheia de afáveis para os estrangeiros
que deixam moedas e transportam pulgas,
oh pulgas lusitanas, pela Europa;
terra de monumentos em que o povo
assina a merda o seu anonimato;
terra-museu em que se vive ainda,
com porcos pela rua, em casas celtiberas;
terra de poetas tão sentimentais
que o cheiro de um sovaco os põe em transe;
terra de pedras esburgadas, secas
como esses sentimentos de oito séculos
de roubos e patrões, barões ou condes;
ó terra de ninguém, ninguém, ninguém:eu te pertenço.
És cabra, és badalhoca,és mais que cachorra pelo cio,
és peste e fome e guerra e dor de coração.
Eu te pertenço mas seres minha, não!


Jorge de Sena


Parece que o rapaz estava com maus fígados. No entanto......