quinta-feira, maio 04, 2006

Swing No Pé


E a princesinha fez-se rainha!! Finalmente consegui comprar o último disco de Sara Tavares, e desde então tem sido audição obrigatória quase todos os dias, cá em casa. E quanto mais o ouço, mais gosto. Este disco tem o raro efeito em mim, de não gostar mais de um tema do que de outro, mas sim do disco todo! Quando começo a ouvi-lo, tenho que o ouvir até ao fim, e se tenho que interromper por alguma razão, fico com pena de não ouvir o resto.
Sara Tavares é daqueles seres mágicos descritos nas mitologias. Uma vez que se cruza no nosso caminho é impossível esquecer o impacto. E quando se analisa o porquê desse impacto, chega-se à conclusão que nada se passou de especial, ela apenas É assim. Quem teve o previlégio de privar com ela, sabe do que estou a falar. Sara vive da sua própria luz, como dizia Djavan numa canção, um sol interior que resplandece e toca tudo e todos à sua volta. E isso está patente neste disco. Eu poderia traçar longas críticas teoricas sobre a maneira como ela compôs, arranjou e produziu este disco (tudo feito por ela), mas seria absolutamente ridículo e inútil. É tudo emoção, intuição, amor, fé fluindo pelas vozes e instrumentos com uma maestria tão natural e fluida que é impossível imaginar os temas de outra maneira. Como compositor, arranjador e produtor, cada vez que ouço o disco aprendo uma lição nova.
Além de tudo isto, Sara conseguiu uma coisa que eu acho bastante notável, e que acredito que não foi de maneira alguma intencional. Materializar aquilo que eu ando a falar há mais de vinte anos: a riqueza cultural da lusofonia. Sempre defendi que Lisboa tem uma situação previlegiada para dar corpo a essa riqueza cultural e mostrá-la ao mundo. Mas infelizmente Portugal continua desde há muitos anos a ser dirigido por “velhos do Restelo”, que ignoram as culturas crioulas resultantes do antigo império. Não sei se alguém já reparou, mas os brasileiros não têm muito a ver com o resto dos sulamericanos, nem os angolanos, moçambicanos, sãotomenses e caboverdianos com o resto dos africanos, nem os goeses com o resto dos indianos. De resto, nem sequer os portugueses com o resto dos europeus. Existe uma idiossincrasia resultado de meio milénio de convivências. Existe por si só, ainda que os “velhos do Restelo” a ignorem. Talvez por causa desses “velhos do Restelo” é que este disco da Sara saiu através de uma editora holandesa, editora essa que teve a coragem de delegar numa artista com menos de 30 anos, e pouco conhecida fora de Portugal, a responsabilidade de produzir o seu próprio disco. E não se arrependeu! Não conheço em Portugal nenhuma editora que o fizesse, ou melhor, mesmo fora de Portugal, não estou a ver, no panorama actual, qual a editora que o fizesse. E esse facto faz-me também dar os parabéns à World Connection, por ter arriscado desta maneira. Foi uma escolha inteligente, ao velho estilo daquilo que se fazia há 30 anos atrás: confiar nos artistas que se contractava, e pôr-lhes meios à disposição para criarem. Dessa política sairam discos de referência ainda hoje, passados 30 anos. E hoje, graças a essa política, Balancê é um sério candidato a disco de referência, também. Já o é, para mim. Só não entendo a estupidez de contrariar esta política editorial, pois afinal é a mais natural, porque foi para isso que as editoras se criaram.

3 comentários:

Anónimo disse...

É bom saber, e como sabes q páro cá pouco, estou um pouco desactualizado com a música nova q se vai fazendo!
Como tb admiro a Sara Tavares, e não tenho dúvidas das suas capacidades, não vou deixar de ouvir este cd. Obrigado pela dica.
Pois, a Espanha está descoberta Amigo, e os teus Abraços entregues.
Estou por Portugal até Fim de Junho. Abraços e muita Música. VS

Cravo a Canela disse...

Epá, tu falas pouco mas quando falas, falas bem! (eu sei que numa frase repeti três vezes a palavra "falas" mas apeteceu-me, ok?!)
Assino integralmente o que disseste sobre a Sara e sobre a Lusofonia...nem mudo as virgulas! É altura de vencer o trauma da descolonização!

Abraço,

Rogério Charraz

SDF disse...

Pahhhh... depois de ler isto, até eu que não sou assim tão ligada em música, fiquei mortinha por o ir ouvir...

Saberá a Sara o excelente PR que tem em ti???...