domingo, março 11, 2007

Alguém Se Lembra?



O meu pai sempre me disse que o povo tem memória curta. Foi há 32 anos! Ele e a minha mãe estavam fora do país havia 3 dias. Eu lembro-me! Sozinho com a minha avó, vendo aviões de combate a passar de um lado para o outro, e sem saber notícias dos meus pais. Na televisão Spínola fugia, e Vasco Gonçalves triunfava. Em menos de um ano iria virar o país de cabeça para baixo, e quase provocou uma guerra civil, junto aos seus camaradas do Partido Comunista. Alguém se lembra? Eu lembro-me. E ainda me lembro que não há muito tempo veio a lume a estória de documentos confidenciais do governo português dessa altura, foram encontrados na KGB, em Moscovo. E as descolonizações que mais não foram que fugas, deixando os futuros países à sua sorte! E as nacionalizações compulsivas! E os saneamentos compulsivos! Alguém foi acusado formalmente de alta traição? Os brandos costumes reinam impavidamente! Além disso, muito confortavelmente, já se remete estas coisas todas para a história. Isso é história, dizem-me! Vergonhosa, mas história! Pois eu vivi essa história, e nessa altura, como pretenso "filho da revolução", prometeram-me um futuro risonho, para mim, e para todos! Esqueceram-se de me dizer que não era no meu próprio país. A propósito de futuro risonho, há aí alguém desse lado a rir-se? Não, é só para saber!





Nota de redação: Depois de escrever esta posta, dei-me ao trabalho de espreitar os sites de Diário de Notícias, Expresso, Correio da Manhã, Público e Visão. Todos eles tinham como primeira página o 3º aniversário dos atentados de Madrid, que eu também vivi intensamente, com a sorte de estar a 650 km dos acontecimentos, mas à mesmíssima hora dos acontecimentos, eu ia trabalhar num comboio igual àqueles que explodiram, o que não deixou de ser uma experiência arrepiante para mim.

No entanto, relativamente ao 11 de Março de 1975, apenas a Visão dedica um slideshow de fotos da época. Eu pergunto-me (e pergunto ao caro e paciente leitor destas páginas) como é que isto deve ser interpretado?

3 comentários:

zmsantos disse...

Como sempre, como dantes. Nós, portugueses, somos notícia por não termos notícias próprias.
Além disso, o que havia para contar já foi feito pela pena do Fernão. Siga a rusga...

A Burra Nas Couves disse...

Mas mesmo na altura se dizia "Fernão, Mentes? Minto!", então em que é que ficamos? Não temos história, não temos identidade, ou somos produto da nossa própria ficção? Diz lá, ó Zé, de tua justiça

Eduardo Ramos de Morais disse...

E, um dia destes, Luis Vaz de Camões estará na história como:
"Aquele velhinho, ceguinho de um olho que fazia versos para a D. Amália Rodrigues cantar".
Isto se ela não fizer o milagre de pôr o João Braga a cantar bem, porque aí a Senhora de Fátima que se cuide...
Até o Eusébio se tem "visto negro" para não ser esquecido.