sexta-feira, fevereiro 22, 2019

Um Género de Violência

A Maria era uma mulher forte. Escondia as suas amarguras com uma alegria contagiante, apesar de ter sido muito maltratada toda a vida, segundo o que me contou. Da última vez, foi caso de polícia, depois de ter sido maltratada física e psicologicamente, e violada repetidas vezes pelo “companheiro”, que chegou a apontar-lhe um arma à cabeça.

Como valente que era a Maria, conseguiu escapar-se do agressor e chamar a polícia, que tomou conta da ocorrência. A Maria também apresentou queixa no Ministério Público, e tentou pressionar o máximo que pôde, para que lhe dessem solução ao seu caso. A única coisa que conseguiu foi um aparelho da Cruz Vermelha Portuguesa, o chamado “botão de pânico”.

Supostamente, se o agressor se aproximasse dela, ela teria que premir o botão, e imediatamente as autoridades apareciam onde ela estivesse. Na prática, a Maria teve que sair da casa que era sua, e alugar uma outra casa, para reduzir as possibilidades do agressor a encontrar, e sentir-se um pouco mais em segurança. E o “botão de pânico” obrigava-a a ligar cada vez que saía de casa, a dizer para onde ia, e com quem ia, e com quem ia estar, e ao chegar ao destino teria que voltar a ligar, a dizer que já tinha chegado, e que estava tudo bem. Nem que fosse para ir ao café da esquina beber um café, ou ao supermercado.

Muitas vezes ela dizia “o outro é que cometeu o crime, mas eu é que vivo numa prisão, enquanto ele faz a vidinha dele, tranquilamente”.

Passei os últimos dois meses de vida da Maria, com ela. Testemunhei em primeira pessoa muita coisa. Inclusivamente os momentos em que a Maria baixava a guarda e se deixava abater por todo o peso que supunha o fardo que carregava. Do seu quotidiano sem respostas por parte do estado, da sua vontade de justiça que tardava, da sua falta de proteção e privacidade.

A Maria consultou uma psiquiatra do SNS em busca de alguma ajuda, que sem mais nada lhe receitou um fármaco, que entre outras coisas, dizia na bula de contra-indicações, que podia acentuar tendências suicidas. E mandou-a voltar passado umas semanas, para ver como se sentia.

Na altura, eu morava na serra da Lousã, e quando a Maria estava lá em casa, era outra pessoa. Passávamos o dia a rir, e a fazer coisas, a cantar. Quando voltávamos a Lisboa, parecia que um manto de obscuridade se estendia sobre o seu ser. Ficava desconfiada, continuamente a ver pessoas que a olhavam, que não estavam a olhar, e a ver o agressor em cada esquina.

Algumas vezes, quando estávamos em Lisboa, a Maria dizia-me para eu a deixar, para seguir a minha vida porque ela estava demasiado partida por dentro, para me fazer feliz. Eu perguntava-lhe que ela me explicara como é que eu poderia deixá-la, e ser feliz.

Sugeri-lhe que viesse para minha casa, não para vivermos juntos, mas para passar uma temporada indefinida, para se restabelecer, até estar forte o suficiente para afrontar a dureza da vida em Lisboa. Ela concordou, e estabelecemos um calendário, para ela poder resolver os seus assuntos em Lisboa. Entretanto ela começou a arrumar as suas coisas, como quem arruma a sua vida.

A Maria trabalhava para a Operação Nariz Vermelho, fazendo rir crianças em estado de vulnerabilidade internadas em hospitais, inclusive no Instituto Português de Oncologia. E eu sabia que ela fazia das tripas coração, porque há que ser uma pessoa muito extraordinária para estar partida por dentro como ela me dizia que estava, e difundir a alegria ao seu redor como ela o fazia. Quem a conheceu sabe bem do que falo. E eu via como ela vinha de rastos do IPO.

Fixou-se a mudança a seguir ao seu último trabalho com a ONV, que seria numa quinta-feira. No fim de semana anterior à mudança, tive um pequeno trabalho que me forçou a ir à Lousã, e aproveitámos a viagem para levar algumas das suas coisas. Ao chegar lá, tirei fotos às suas coisas, para que elas visse lá em casa, e disse-lhe que faltavam apenas alguns dias, para ela poder respirar melhor.

Lembro-me de que da última vez que falámos, no domingo pela hora de almoço, ela perguntar-me se poderia plantar coisas, ao que eu lhe disse que claro que sim, que encontraríamos um cantinho para ela plantar as coisas dela.

Essa mesma noite regressei a Lisboa para encontrar o corpo sem vida da Maria. O peso foi demasiado para ela, e decidiu ela mesma pôr termo ao seu sofrimento. Faz hoje exactamente 4 anos. Tantos como os que me levou para falar publicamente sobre este assunto.

E falo sobre este assunto, porque vivi de perto, e em primeira pessoa, as consequências da violência de género. E porque não quero que seja um assunto do qual se pare de falar e de testemunhar. Porque quero que se fale, que se debata, que se denuncie, que se exponha até o estado e as autoridades competentes tomarem consciência das consequências da sua inércia e inconsequência. Porque é um assunto que afecta toda a gente, e por conseguinte diz respeito a toda a gente. E por dizer respeito a toda a gente, toda a gente tem que trabalhar no sentido de pôr termo à violência de género.

Quem não respeita os outros, sejam de que género fôr, não se respeita a si mesmo. E por não se respeitar assim mesmo, precisa de desprezar e humilhar outros, para se sentir momentaneamente melhor consigo mesmo.

E hoje quero relembrar a Maria, que talvez já se tenham esquecido dela. Eu não posso.

Não sei como agradecer à minha presente companheira, que fez o favor de me mostrar que eu estava errado, ao pensar que nunca poderia voltar a viver ou amar.

domingo, outubro 07, 2018

É o fascismo, estúpido!!!



De todas as estupidezes humanas, a mais estúpida de todas será talvez o fascismo, com bastas provas dadas no passado da sua estupidez. Mas sobre a estupidez da qual resulta o fascismo muito pouco se pode dizer, de tão básica. Pessoas com coeficiente intelectual e emocional muito baixo, com as quais pessoas nas mesmas circunstâncias se revêem. Apelam aos sentimentos tribais mais básicos, mostrando uma total ausência de empatia para tudo e todos que não sirvam a tribo, ignorando totalmente uma das poucas verdades absolutas em que todos podemos acreditar: vivemos todos no mesmo planeta, e isto está tudo ligado! Assim como o resto do corpo depende dos rins, ou do fígado. Etienne de la Boetie explicou o resto há quase 500 anos atrás.






No entanto, a reação à ascensão do fascismo, regra geral, tem sido sempre a mesma ao longo da nossa história recente: a resistência e o combate. E só a muito custo e sacrifício o fascismo resulta derrotado. No nosso país “comeu-nos” meio século.






E eu ponho-me a olhar lá para trás para a história, e a ver como e porquê surgiram os vários fascismos que assolaram a Europa, e os que já começaram a assolar (não nos enganemos). Quais têm sido as condições favoráveis para que estes fenómenos possam florescer?






Acho que um dos ingredientes mais constantes tem sido quase sempre o falhanço dos governos democráticos em dar resposta às necessidades mais básicas da população em geral, e sobretudo à camada mais desfavorecida (que é por onde normalmente o “cancro” encontra o terreno mais fértil para florescer). Ou seja, o fascismo não aparece por geração espontânea, mas é a estupidez que culmina depois de uma série de estupidezes de uma classe política arrogante e autista, que governa em seu proveito, ignorando quem estão governando, e quem os sustenta. No entanto, essa classe política acha-se imensamente esperta, ignorando a velha máxima de que “o problema do esperto é que acha que os outros são todos estúpidos”. E toda essa “esperteza” não é suficiente para tomar atenção e não descuidar as condições que no passado provaram ser favoráveis ao aparecimento do fascismo, que poderão eventualmente ter como consequência a aniquilação da própria classe política.






Pessoas com educação têm um pensamento crítico, e isso é bastante incómodo para as classes políticas, porque têm que responder perante eleitores exigentes. Talvez por esse motivo, os sucessivos governos tenham transformado as escolas em fábricas de estúpidos, seja pelos programas, pelas reformas, ou pela maneira como têm manietados os professores. Pelo andar da carruagem, talvez lhes saia o tiro pela culatra






Recentemente, em conversa com uma querida amiga, fiquei a saber que o PNR tem andado a abrir creches e centros de dia para os idosos. Ainda me lembro quando eram partidos de esquerda que faziam isso. Claramente esse trabalho social tem sido progressivamente abandonado (pelo governo, ou pela esquerda), deixando o caminho livre. Depois não se queixem.






Toda a minha vida lutei, e combati por aquilo que acho justo, para toda a gente. E sempre que for necessário levantar-me para a luta, lá estarei. Mas sou imensamente mais adepto da prevenção. Já diz o povo na sua imensa sabedoria “Mais vale prevenir….”

terça-feira, julho 31, 2018

A Estimação dos Animais

Oh pá, eu adoooro animais

Eu também, gosto muito de animais

Eu tenho dois gatos e um cão, e tu?

Eu não tenho animais

Mas não disseste que gostavas de animais?

Por essa mesma razão é que eu não tenho animais

Não percebo

Tu disseste que tens dois gatos e um cão, certo?

Certo!

Os gatos são os dois machos?

Sim, são os dois machos

E estão castrados?

Claro! Então se não fosse assim, desapareciam e urinavam por todo o sítio, e miavam
imenso quando estivessem com o cio

E vives no campo ou num apartamento?

Num apartamento.

E o cão? Pode andar por onde quer?

Dentro de casa, claro que sim!! E levo-o a passear pela manhã e pela tarde. Muita gente só os leva a passear uma vez por dia. Eu trato muito bem dos bichos, como te disse, adoro animais. Estão todos vacinados e dou-lhes imensos mimos. Mas não estou a perceber o que isso tem a ver com o facto de tu também gostares de animais e não teres nenhum. Como é que não teres nenhum animal é razão demonstrativa para gostares de animais?

É que eu não olho para os outros animais como coisas diferentes e distantes de mim o suficiente para os possuir, para os ter, para ser dono deles. Eu também sou um animal, diferente deles, mas em nada superior ou inferior, dado que partilhamos grande parte da nossa biologia, e o mesmo planeta. Sinceramente, não considero que encerrar animais dentro da minha casa, apenas com ordem de soltura controlada (na melhor das possibilidades, duas vezes por dia), castrá-los para minha conveniência, seja sinónimo de gostar deles. Na minha maneira de gostar de animais é começar por respeitar a sua liberdade (e integridade física, obviamente), como eu gosto que respeitem a minha. Se eles acharem por bem estar na minha companhia, é uma escolha deles, e não uma obrigação que lhes imponho.
Acho sinceramente que “ter” animais (por muito bem tratados que eles sejam) não é sinónimo de gostar dos animais. É sinónimo de gostar daquilo que os animais proporcionam, o que é substancialmente diferente.

É essa a opinião que tens das pessoas que têm animais? Achas que isso não é normal?

Eu não disse qual era a minha opinião acerca das pessoas que têm animais. Eu expliquei a razão pela qual não ter animais é a minha maneira de gostar deles. Depois, tenho a dizer que a normalidade é um dado estatístico, por conseguinte quantas mais pessoas concordarem com dado procedimento, mais normal se torna. Mas a normalidade não torna o procedimento certo, por ser normal.

Quer dizer, tu tens a arrogância de achar que os milhões de pessoas que têm mascotes pelo mundo fora, estão erradas?

Acho que os milhões de pessoas pelo mundo fora têm a arrogância de se achar superiores aos animais que têm como mascotes, ao ponto de dispôr da sua liberdade, e da sua integridade física, para sua comodidade e prazer, e acharem isso normal. Penso que haverá um termo clínico para esse tipo de desvio psicológico.

domingo, junho 20, 2010

Alguém explique ao homem, por favor!

Goivanni Papini no seu livro "Relatório sobre o Homem" disse, e com muita razão, que uma das vantagens de ser néscio, é que não se tem a consciência de que se é! Portanto, haja alguém que tenha a paciência de com tempo e algumas ilustrações, explicar ao sr. Silva que o cargo para o qual foi eleito não é para envergonhar a república da qual é presidente, nem o povo que representa, e sim todo o contrário: dignificá-lo e elevá-lo. E que, no exercício dessas funções, que não têm horário, nem fins-de-semana, não existe espaço para os seus gostos e desgostos pessoais, muito menos para birras de menino malcriado. E que a maioria dos portugueses se levanta todas as manhãs para trabalhar (os que têm trabalho, obviamente), gostem ou não, e que através desse trabalho pagam impostos, e uma parte deles serve para lhe pagar o ordenado, e as mordomias inerentes, inclusivamente a viagem que o levou aos Açores, tenha ela sido paga com as mordomias ou com o ordenado.
Se isso consiste demasiado esforço para o sr. Silva, então o melhor seria despedir-se. Ser presidente da república é estar apto para dignificar e elevar o nome de Portugal e dos portugueses. Ou seja, exactamente o que fez José Saramago sem nunca ter sido presidente, e sem que ninguém lhe pedira. E numa dimensão que nem nos seus sonhos mais selvagens o sr. Silva poderia almejar.
Portanto, se o sr. Silva não está à altura de honrar o cargo para o qual foi eleito, o mais digno talvez seja voltar para o Poço (de Borratém), e deixar o cargo livre para alguém com competências para o efeito. Eu sei que é pedir muito a um mentecapto obtuso, a quem um dia houve alguém que teve a triste ideia de dar poder, mas pedir não custa. Vá lá! Alguém que se anime, e vá lá esclarecer o homem! Senão, não passamos disto, e o homem vai passar a vida toda enganado, pensando que é o rei do mambo!! Já viram bem a vergonha que estamos a passar diante de todos os digntários estrangeiros que vieram despedir-se de Saramago, e o homem não estava lá? Isso porque ninguém lhe explicou bem que as coisas não são como ele pensa, ou quer! Vão lá, e levem muitas ilustrações, senão ele vai-se aborrecer, e não perceber patavina. Ah, e tratem-no sempre por sr. presidente ou sr. professor que ele gosta é disso, e de outra maneira não estará receptivo a nada. Vá lá!

Saramago e os Protozoários

A Burra quebra o seu silêncio de mais de um ano e meio, para fazer uma humilde e devida vénia de despedida ao génio do escritor José Saramago. Foi, é e será sempre uma figura incontornável do património cultural da humanidade. Muitos podem considerar o seu falecimento como uma grande perda, mas eu que não sou tão egoísta, prefiro pensar que a sua existência foi e é uma grande riqueza para todos nós.
Apesar de grande admirador da obra do escritor, nem sempre estive de acordo com o homem público e com as posições por ele tomadas, mas admirei e admiro a coerência férrea entre as suas opiniões e os seus actos.

Tristemente, a morte de uma figura como Saramago é sempre envolvida em polémica pelos que cá ficam, e principalmente pelos poderes políticos, que de uma maneira ou outra, quais aves necrófagas, sempre tentam tirar algum dividendo da situação. A polémica desta vez veio de antigas questões entre Saramago e o actual presidente da República, Cavaco Silva, e do seu ex-secretário de estado Sousa Lara, quando no princípio dos anos 90 vetaram o livro "O Evangelho segundo Jesus Cristo". Cavaco Silva não prestou homenagem na câmara ardente (espera-se que vá ao funeral), e Sousa Lara diz que voltaria a vetar o livro. Ora, é certo e sabido que os homens políticos primam na grande maioria das vezes pela estreiteza das suas ideias, o que não seria de muito incómodo se não fosse pelo poder que detêm para pô-las em práctica. Além desse estreiteza de ideias (que no caso das figuras supra citadas roçam o obtuso), têm deveres para com as maiorias que os elegeram, o que infelizmente põem acima dos deveres inerentes aos cargos que detêm, e para com a população no seu total. Já várias vezes referi que as maiorias nunca têm razão, e que os poucos avanços sociais e culturais da nossa sociedade se devem à tenacidade de estoicas minorias, mas parece que isso é muito fácil e confortável de esquecer.
Politicamente, José Saramago representou o oposto disso, e não foram poucas as vezes em que entrou em rota de colisão com o próprio partido pelo qual era eleito.
Quando "bateu de frente" contra os protozoários culturais que vetaram o seu livro, auto-exilou-se em Lanzarote, nas ilhas Canárias, onde viveu até falecer, na passada sexta-feira. No entanto, e isto é bom de salientar, Saramago manteve a sua residência oficial em Portugal, e continuou a declarar e a pagar os seus impostos em Portugal. Eu já não posso dizer o mesmo, embora comungue do sentimento que o levou às Canárias.

Foi ateu confesso e militante dizendo que todos os dias procurava sinais de deus, mas não os encontrava. Além disso, também se confessava anti-religioso, dizendo que as religiões embaceavam a visão das pessoas, o que concordo plenamente. Com isso, e um par de livros ("O Evangelho segundo Jesus Cristo" e o seu último "Caim") ganhou a férrea antipatia dos negros arcanjos de sotaina do Vaticano. Não será demais relembrar que no passado houve outros génios da nossa literatura que também chocaram de frente com os mafarricos de deus. Numa época em que ser excomungado era algo muito grave, o genial Guerra Junqueiro mereceu esse "prémio" pelo seu livro "A Velhice do Padre Eterno", que é o manifesto anti-clerical mais extraordinário que conheço. No entanto, ao contrário de Saramago, Junqueiro era um fervoroso crente, baseando nisso a sua contundência contra essa nefasta organização que é a Igreja Católica Apostólica Romana.

Apesar de eu não concordar em muitas coisas com José Saramago (entre elas a ideia de uma Iberia unida), uma personagem que despertava tamanhas antipatias da parte da classe política e da igreja, só pode merecer a minha mais profunda simpatia, e mais do que isso, a minha admiração.

Mais uma vez tenho diante de mim a imagem de minúsculas figuras políticas querendo pôr-se em bicos de pé diante da maiusculidade merecida de um homem cujo trabalho nos engradece a todos. E quando digo a todos, não digo só aos portugueses, nem aos lusófonos. A obra que nos deixa José Saramago é património de toda a humanidade, e como tal, deixa um mundo mais rico por ter existido. De muito poucos de nós se poderá dizer a mesma coisa, e seguramente nada dos protozoários políticos e religiosos que o louvam ou atacam.

segunda-feira, novembro 24, 2008

Dose dupla

Para todos aqueles que tiveram paciência e interesse para ver o video postado em Abril deste ano, aqui vai a segunda dose, dos mesmos autores. Aconselho vivamente o visionamento. Eu sei que também são duas horas, mas não é de maneira nenhuma tempo perdido. Não me manifesto nem apologista, nem crítico do que se defende e expõe nos dois documentários. Apenas sou apologista de que todos vocês, como eu o fiz, pensem e tirem as vossas próprias conclusões, pois isso é muito mais importante do que apoiar ou refutar aquilo que seja. Pensem! Reflictam! Porque parece que isso hoje em dia está a cair em desuso! Apoiem ou critiquem, não interessa!

quarta-feira, abril 30, 2008

O quê? Ah, pois......sempre, né?

Não só parecem longínquos, os 34 anos passados sobre a revolução, mas mais longínquas parecem todas as esperanças que tinhamos na altura. Trinta e quatro anos de liberdade!

Para equipararem-se aos 48 da ditadura, só faltam 14, e ainda há quem tenha a lata de desculpar o atraso do país com a ditadura. Ok, pronto, está bem, foram 48 anos cruciais na história do mundo, em que tudo aconteceu fora das nossas fronteiras, enquanto o pessoal ouvia na rádio o "Serão para Trabalhadores". E........desculpem lá a pergunta.........nestes últimos 34 anos não aconteceu nada no mundo? Ah, ok, temos telemóveis à fartazana, multibancos e fazemos a declaração do IRS pela internet, além da Playstation e da TVCabo, e outras modernices que não me vêm à lembrança. De vez em quando calha-nos a presidência da União Europeia, para podermos andar 6 meses ufanos, e o presidente da Comissão Europeia é um português!

Trinta e quatro anos de liberdade! Sim, comparado com o garrote em que se vivia "no tempo da outra senhora", concordo plenamente. No entanto, entendo que liberdade é poder escolher como se quer viver cada segundo da vida, e para isso ter opções e alternativas, e caminhos para caminhar, ou até para fazer caminhos ao caminhar, como diria o António Machado.

"No tempo da outra senhora", dizia-se sussurando, nos cantos e esquinas escondidas, que o país era atrasado culturalmente por causa dos três éfes: Futebol, Fado e Fátima. Hoje em dia, sobre a pujança do futebol na cultura portuguesa, nem é necessário acrescentar o que seja; o fado nunca antes gozou de tanta saúde (e eu pessoalmente sou fã, assim como de muitas outras coisas). Onde é que anda a Fátima? Já vem? Está-se a vestir? Tá bem, era só pra saber!

"A culpa foi da ditadura! A culpa foi do Gonçalvismo! A culpa foi dos governos provisórios! A culpa foi da AD! A culpa foi do Soares! A culpa foi do Cavaco! A culpa foi dos socialistas! A culpa foi do PSD!"

Quando é que será que finalmente, a culpa foi, é, e será única e exclusivamente nossa? Afinal, não é porque as ovelhas possam escolher o seu pastor, que deixam de ser ovelhas, e andar em rebanho! Mas também concordo que só se apresentam lobos, como candidatos a pastor, mas quem não é pastor não lhe vista a pele!