quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Dúvida Metódica

Continuo a verificar com enorme prazer e carinho que aquilo que escrevo ainda é lido, e seguido, e perseguido, e até apreciado, embora só alguns de vocês se atreva a um comentário, que é sempre benvindo. Sinto uma festinhas carinhosas no ego quando alguém me pede mais constância na escrita. No entanto, ao reler as minhas postas passadas, verifico que na maior parte das vezes apenas dou largas à minha veia contestatária, ou por outras palavras, ao meu mau-feitio, tentando dar largas à tradição medieval das cantigas de escárnio e mal-dizer, que os portugueses em geral são tão exímios, e eu não escapo à regra. Mas também verifico que essas postas são resultado do meu contacto com o mundo real, ou seja, de cada vez que me dá por pôr a cabeça fora do meu casulo, e passear os olhos pelas parangonas dos media, que continuamente me põem mal-disposto. Mas isso passa-se cada vez menos, pois como eu estou ciente do constante bombardeio de informação inútil que os média tão laboriosamente nos porporciona, escudo-me cobardemente, evitando qualquer contacto. A saber, não ouço rádio, não leio jornais (excepto as gordas quando passo por algum quiosque), nem mesmo os gratuitos, e apesar de várias petições do pessoal cá de casa em ligar a antena, a televisão só me serve para me deleitar com um bom filme ou um bom concerto, quando o tempo disponível o permite. Pode ser uma cobardia, mas sinto-me mais feliz assim. Até porque cada vez que tomo contacto com as notícias, verifico que não são novas, são as mesma de há 30 anos, apenas mudam os protagonistas e os cenários. O poder continua igual a si mesmo, e a comportar-se de acordo com aquilo que serve e que cultiva (ele mesmo, e não os cidadãos), os americanos continuam a semear vietnames pelo mundo fora, o povo continua oprimido directa ou indirectamente, visível ou invisivelmente, enfim, como se costuma dizer, tudo na paz do senhor.

E deste ponto de vista, questiono-me a mim próprio sobre o que ando para aqui a escrever durante este tempo todo. Eu que fujo a 7 pés da redundância e da vulgaridade, caio nelas pondo-me para aqui a escarrar o meu mau-feitio, como se fosse numa qualquer taberna de bairro, entre copos de três e sandes de courato. Será que isso me alivia, e me faz sentir melhor comigo mesmo? Sinto-me melhor pessoa por condenar o que está mal, e elevar o que está bem? É possível que sim, mas não me eleva acima da vulgaridade nem da redundância, nem eleva este blog a mais do que uma sanita das minhas excreções mentais, ainda por cima desprovida de autoclismo. Também nunca pretendi que isto fosse um “diário de exílio”, o que então já seria de vomitar. Primeiro porque não estou exilado, e segundo porque me estaria a desrespeitar e aos que me lêem, puxando ao sentimento barato da peninha do rapaz que teve que ir lá para fora lutar pela vida. Eu não luto pela vida, eu tento vivê-la. E na vida há um tempo para tudo! Como dizia a Banda do Casaco na capa do seu excelente último album, “Há mesmo um tempo para que os tempo se voltem a encontrar”. E nesta altura da minha vida, em que estou, é o meu tempo de sentir. Tenho muita coisa em quantidade, qualidade e dimensão para sentir, coisas até muito maiores do que eu, que estou a tentar assimilar da melhor maneira possível. Não é um tempo para explicar seja o que for, nem que seja por um mero impulso verborreico, de quem tem dificuldade de estar calado. É tempo de contemplação, interior e exterior. Delicio-me visitando os blogs de amigos, conhecidos e desconhecidos, como se os fosse visitar às suas casas. A minha, de momento, anda em obras. Por isso a constância da escrita não tem sido lá grande coisa, porque também não tenho grande coisa para dizer. E apesar de todo o respeito e admiração que vos tenho, não me permito tornar-me escravo da vossa leitura. Prefiro neste momento ler e ouvir pessoas que têm na verdade alguma coisa para dizer. A Burra está em dúvida metódica, quando for altura e oportuno zurrar alguma coisa, já se fará notar.