
Quando menos esperamos, a vida presenteia-nos com inesperadíssimas surpresas, e foi o que me aconteceu, quando em 1995, o Luís Hilário do Hot Club de Portugal me telefonou a perguntar se eu estaria disponível para um seminário/concerto, integrado no festival Jazz em Agosto, na Fundação Gulbenkian. Estavamos às vésperas do meu aniversário. Disse-lhe que sim, que estava disponível, mas que me desse mais detalhes. Então lá me explicou que nesse ano o festival iria homenagear Max Roach, e que o mesmo pediu que se formasse um colectivo de bateristas e percussionistas, um pouco à semelhança do grupo M'Boom, que ele dirigia desde princípios dos anos 70. Senti as pernas a fraquejar, e a adrenalina a subir como um foguete. Max Roach? O Max Roach? Aquele que escreveu várias páginas da história do jazz, junto a nomes como Charlie Parker, Charles Mingus, Dizzie Gillespie, Miles Davis, e tantos outros? Esse Max Roach? Por momentos pensei que estavam a gozar comigo, no entanto lá fui eu no dia indicado, na hora indicada para a Fundação Gulbenkian, onde me encontrei com vários colegas, uns mais íntimos do que outros. Não me vou esquecer nunca do momento em que Max Roach entrou na sala, e eu senti como a sua presença encheu aquela sala. Durante os 3 dias que trabalhámos, foi inacreditável aquilo que produzimos, e eu pessoalmente estava abismado com as coisas que me iam saindo. Num dos temas, Max decidiu pôr-me à frente, dando a entrada de um tema com o meu djembé. O concerto do Colectivo Português de Percussão, dirigido por Max Roach, foi um êxito, e desse colectivo nasceu o grupo Tim-tim por Tum-tum, do qual eu já não fiz parte. Um ano e tal mais tarde voltei a ver Max Roach, num extraordinário espectáculo a duo com o bailarino e coreógrafo americano Bill T. Jones. Fui o único do colectivo a apresentar-se ao espectáculo. No final, ainda de queixo no chão do que acabava de ver e ouvir, fui ao camarim cumprimentá-lo, e timidamente perguntei se ainda se lembrava de mim. Ele sorriu e disse "Ah! Mister Djembé Man!". Foi a última vez que o vi. Para ele fiquei o mr. Djembe Man, mas ele para mim ficou como um encontro místico, muito mais além da música.

Tanto Roach como Zawinul foram dessas figuras que vão de catana à frente, abrindo os caminhos da creatividade e da inovação, para nos deixarem referências, reflexões e pistas a seguir. A estes dois e a alguns poucos mais, tenho-lhes a agradecer terem-me ensinado que mais importante que ser músico, é ser MÚSICA! Mas seguramente, se Deus os chamou, foi para os ouvir tocar!!!