quarta-feira, agosto 29, 2007

segunda-feira, agosto 27, 2007

Fui ver o sol nascer no mar



Fui ver o sol nascer. Farto de estar vazio, senti necessidade de que alguma coisa enchesse e fui ver o sol nascer. Depois de 4 dias sem sair de casa, imerso em mim mesmo, arrastei o corpo pesado para cima da minha bicicleta, desci a rua (tenho o previlégio da praia estar no fim da rua), e fui ver o sol nascer no mar. Para trás deixei o meu quarto, onde me enfiei qual gruta. A mala ainda por desfazer há quase 2 semanas, a desordem de objectos e papéis um pouco por toda a parte, reflexo da minha cabeça. Fui ver o sol nascer no mar. Na esperança que um ou o outro me dessem respostas às minhas perguntas. Ou nem isso, nem é isso o que eu queria, apenas queria sentir-me abraçado. Pensando no abraço veio-me à cabeça a terna memória do abraço do meu filho, o qual tão cedo não terei. Nem poderei chegar ao seu quarto, e enquanto ele dormir, passar a minha mão pelos seus cabelos e face, como tantas vezes o fiz. Tentei imaginar que a luz que o sol começava a despontar me abraçava os olhos, que o marulhar do mar me abraçava os ouvidos, e que o calor e a maresia me abraçavam o corpo com braços de seda. E com o olhar pendurado no horizonte a levante, deixei a cabeça esvaziar, e as memórias desfilarem como um filme, emocionando-me e comocionando-me, como se saíssem de mim para o infinito. Já quisera eu! Que essas memórias me abandonassem, nem que fosse por umas semanas, mas eu sei que não. Seguirão desfilando perante os meus olhos, tão reais que quase posso tocá-las, desfilando como uma projeção de slides animados, com cheiros, toques, aromas, calores, humores e amores. Seguirão suspensas na minha mente, como essa bola de fogo suspensa no horizonte à minha frente. Apertado o meu pescoço no dramatismo lusitano, ao qual não posso escapar, o sol acaba de nascer. E diante de um espectáculo assim, a violenta beleza que espraia à minha frente estrangula-me até quase ficar sem ar, os olhos embaçam-se, o meu corpo amolece, e ouço-me dizer: "Tudo isto é triste! Tudo isto existe! Tudo isto é fado!"