terça-feira, outubro 25, 2005

Politicamente (In)Correcto (a tão esperada e ansiada continuação)

Muitos devem pensar que o politicamente correcto é coisa dos nossos dias, mas enganam-se. A coisa já se vem desenvolvendo há séculos. E passo a elucidar num historial do politicamente correcto.

Muita gente estará convicta que a abolição da escravatura se deveu à constante luta dos chamados “homens de boa vontade”. Errado! O êxito desse movimento deve-se exclusivamente a propósitos económicos. Como? Os escravos tinham tanto valor como o gado, e qualquer criador de gado sabe que custa muito manter o gado em perfeitas condições de saúde, bem alimentado e bem cuidado, para que a sua rentabilização possa ser efectiva. A diferença é que um escravo podia ser muito mais autónomo que um burro ou uma vaca. Nessa época, a Revolução Industrial ia já a passos largos nos países tecnologicamente mais avançados (daí a serem os primeiros a abolir a escravatura). A equação era simples: em vez de se manter um sem-número de escravos, seria mais rentável que os tivessem trabalhando igualmente nas mesmas condições degradantes, pagando salários miseráveis, mas pelo menos os escravos cuidavam-se a si mesmos. Aí nasceu o proletariado. Como a tecnologia já ia proporcionando máquinas capazes de fazer o trabalho de vários homens, não eram precisos tantos homens para o trabalho. Obviamente que nos países, ou zonas de países mais agrícolas do que industriais, a coisa demorou bastante mais. Daí a guerra da Secessão nos Estados Unidos, e daí países europeus como Portugal e Espanha serem dos últimos a abolir a escravatura.

Mais tarde vieram as sufragistas, a quem não foi dado o direito de voto pelo ideal dos direitos das mulheres, mas sim porque servia os interesses dos partidos políticos, quando já se desenhava o que seriam as pseudo-democracias de hoje.

Com as duas guerras mundiais, foi necessário sacar as mulheres de casa, para manterem os países a funcionar, enquanto os homens iam guerrear. E com isso se verificou que as mulheres eram tão ou mais capazes do que os homens para fazer o mesmo trabalho. Com o fim das guerras, mandaram de novo as mulheres para casa, que obviamente não ficaram muito contentes com o assunto, e demoraram uma série de décadas até conseguirem sair de novo, pelo seu próprio pé. Mas conseguiram mesmo? Conseguiram na verdade um lugar equiparado? Então porque é que em regra geral uma mulher ganha substancialmente menos do que um homem na mesma categoria profissional, e com as mesmas competências e responsabilidades? E porque é que, regra geral, observo que as mulheres que “triunfam” no mercado laboral, em vez de aportar algo de novo, simplesmente se comportam como homens? Com a agressividade, frieza e calculismo inerentes.

Tal qual como após as lutas raciais nos Estados Unidos nos anos 60, verifico que os negros que triunfaram na sociedade norte-americana, o conseguiram porque se transformaram em brancos, sem contribuir em nada da sua cultura ao status quo. Os melhores exemplos são Condoleeza Rice, e Colin Powell.

O mesmo processo da abolição da escravatura, passou-se mais tarde com as descolonizações. Os ataques que Portugal recebeu na ONU (merecidos, sem dúvida), no tempo de Salazar, mascaravam a vergonhosa realidade de que também os outros países queriam “meter a unha”, no que era na altura as “províncias ultramarinas”, o que mais tarde se veio a verificar, com as guerras civis em Angola e Moçambique, que só puderam eternizar-se graças aos apoios estrangeiros (a troco de muita coisa, obviamente). Por conseguinte ninguém estava verdadeiramente preocupado se os povos dessas colónias estavam a ser colonizados ou não.

Vê-se ainda hoje, o que deu a descolonização europeia em Àfrica. Inventaram países que nunca existiram, cortados a régua e esquadro, completamente dependentes de tudo, com um nível de vida extremamente precário, que origina a emigração em massa para a Europa, onde se arrisca a vida numa cerca de arame farpado, por um pedaço de pãp, e uma vida um pouco mais digna. Pois é, até a dignidade lhes foi tirada, aos africanos e a quase todos os países chamados do terceiro mundo. E agora vêm as beneméritas ONG’s fazerem aquilo que eles pensam ser o melhor para esses povos. Ajudar o terceiro mundo com os critérios do primeiro.

Desculpem-me os leitores o linguajar, mas.........não me fodam!!!!!

Cada vez que alguma instituição me vem com uma cantilena qualquer de algo que é para o meu bem, começo logo a preparar o orifício anal, e a vaselina, porque sei que vou ter que aguentar algum outro “supositório”, para o bem de todos.

sexta-feira, outubro 21, 2005

Politicamente (In)Correcto

É que já não há cu que aguente! Mãe, se estás a ler isto aviso-te já que segues por tua conta e risco!

JÁ NÃO AGUENTO MAIS O POLITICAMENTE CORRECTO!!!!!!!!!!!!!!!!

Quanto mais politicamente correcta se torna a sociedade, mais necessidade sinto de dizer caralhadas, e de verbalmente encher as mãos de merda e esfregá-las na parede! O politicamente correcto é o estado mais vil e cínico a que chegou esta sociedade! Dum snobismo à prova de bala! O parecer bem, o ficar bem, o dizer bem, o fazer o bem, denota a mais baixa condição moral humana! Durante séculos as coisas e as pessoas sempre tiveram os seus lugares nas sociedades humanas, e agora de repente toda a gente é boazinha! Os poderosos sempre foram poderosos, e para se manterem poderosos sempre se apoiaram nos que sempre foderam e sempre foram fodidos. Mas na era do politicamente correcto, toda a gente vive na grande mentira de que toda a gente tem as mesmas hipóteses à partida. Para começar, a lei da selva que tanto horroriza o politicamente correcto, é a lei da natureza: há quem esteja mais acima na cadeia alimentar, há quem esteja mais abaixo, mas imperetrivelmente todos e tudo tem o seu sítio, e os humanos não escapam à regra, por mais que o tentem mascarar. É cruel convencer os cidadãos duma suposta democracia, que têm direito a decidir, quando não se lhes põe diante verdadeiras alternativas credíveis. É cruel convencer um pobre de que se trabalhar muito vai ser alguém na vida. É cruel um artista pop ir a um país do 3º mundo tirar a fotografia com um indígena (de preferência criança), dando-lhe a ilusão de que a sua vida melhorará substancialmente depois da partida do dito cujo. É cruel o politicamente correcto. O politicamente correcto é uma tentativa de que os outros não pensem que pensamos aquilo que verdadeiramente pensamos. È um branqueamento de imagem e intenções. É uma palhaçada mórbida que causa danos irreversíveis à sociedade!

Noutro dia vi num blog amigo a referência a um artista “afro-americano”. O que é isso? Isso existe na realidade? Existem também afro-europeus, afro-asiáticos e afro-oceânicos? Ou é um americano com um penteado afro? Ah, é porque é um americano negro! E de que país é que ele é, já agora? Canadá, Colombia, Argentina? Então e se for americano, mas de descendência marroquina, argelina, tunisina, líbia, ou egípcia? Que eu saiba também são países africanos, cuja raça predominante não é a negra. Que parvoíce é esta? Os vagabundos são sem-abrigo, os almeidas são técnicos de salubridade, os tísicos são portadores de doença infecto-contagiosa, os moinantes são delinquentes, as mulheres-a-dias e as sopeiras são empregadas domésticas, os maricas são homossexuais, os coscuvilheiros são jornalistas e os filhos-da-puta são governo. Andam a gozar com o pagode, ou quê?

Tem continuação............

Filosofia de Emilio

Chegou-me ao meu email uma mensagem com uma série de frases “filosóficas”, e algumas (sabe-se lá porquê) achei dignas de nota, e de reflexão. E passo a citar:


-“A facilidade de falar é quase sempre devida à incapacidade de estar calado”

-“Os políticos são como as fraldas do bebés. Necessitam ser mudados frequentemente, e pelas mesmas razões”

-“Não se deve maltratar as mulheres! A natureza encarrega-se disso à medida que o tempo passa” (Com os homens passa o mesmo)

-“A forma das pirâmides do Egipto demonstra eloquentemente que já nessa época havia tendência para os trabalhadores produzirem cada vez menos”

-“Diz a alguém que há 300 milhões de estrelas no universo e acreditará, mas se lhe disseres que a tinta não está seca, terá necessidade de verificar com o dedo”

quinta-feira, outubro 20, 2005

Acorda, Lerdo!

Aqui há 2 anos, nos camarins do Barbican Center, em Londres, veio-me ter à mão, sem dono, o livro Awakening (se estiver traduazido para português, a tradução talvez seja Despertar), um livro inquietante de Anthony de Mello. O dito cujo era um psicólogo jesuíta, que pela sua postura, não sei se resistiria no presente pontificado, e nem sei como é que a Santa Madre que os pariu lá do Vaticano nunca lhe deu com o xanato no traseiro, pois aquilo que o rapaz advogava, noutros tempos da fidalguia, dar-lhe-ia oportunidade de fazer companhia aos carapaus no braseiro, como o Giordano Bruno. Além do mais as suas amizades eram pouco recomendáveis, pois era íntimo de vários místicos e teólogos de várias religiões e filosofias espirituais. Claro que isso para mim tem a maior simpatia, e o facto de isso provocar uma severa irritação no escroto do santo padre, quase que o amei. É uma livro que recomendo às mentes mais inquietas. Já vou na terceira leitura, a modos de Tai-Chi-Chuan. Vem-me à memória uma frase que um colega meu em Itália me escreveu na agenda escolar, no fim do curso:”L’importante é che la morte ci trovi vivvi!”

Dark Side Of The Moon

 
Resisti 10 meses sem falar aqui de música. Não está mau! Mas a razão é de peso. Saquei da internet um documental do "making of" deste fantástico disco, comentado por todos os intervenientes, 30 anos depois. Invejei bastante o talento e a criatividade dos músicos e do engenheiro de som (Alan Parsons), mas sobretudo invejei as condições em que trabalharam: enfiaram-se no estúdio, e só sairam de lá com o disco pronto! E fiquei a perguntar-me o que é que se passou entretanto com a industria musical. Porque é que depois entrou em vigor a moda de gravar discos em 15 dias? Se isso servia para os Ramones, ou para os Sex Pistols, não quer dizer que sirva para todos. Eu pessoalmente tive sorte, porque na última grande produção que tive em portugal, entrei no estúdio por um mês, e sai de lá ao fim de 3. É que era impossível fazer a coisa por menos!
De volta ao Dark Side, deu-me também saudade do tempo em que havia gente que queria dizer alguma coisa com os seus discos, e os tratavam de verdade como a criação duma obra de arte. O tempo veio-lhes a dar razão. Como "concept-album" (disco de conceito), este disco é provavelmente uma das maiores obras-primas da música contemporânea: pela composição, execução, produção e realização. Foi tudo feito à unha! Hoje temos ferramentas impensáveis naqueles tempos, mas a creatividade, e o tempo para experimentação, simplesmente não existem. Que tristeza!
Vou ver se consigo fazer algo em relação a isso! Posted by Picasa

A Noite (Rectificação)

     Afinal a coisa é pior do que eu pensava. A minha mãe teve a gentileza de me corrigir. É que o tal ritual da oferenda à lua não era para prevenir, já era para tentar remediar! Ou seja que isto do noctívago já é de nascença! E o pior, é que me parece que é hereditário, pois o meu rebento também tem certa dificuldade em entregar-se aos braços de Orfeu. Se eu soubesse antes, poderia ter feito uma brilhante carreira como guarda-nocturno, mas pode ser que o meu filho ainda esteja a tempo!

terça-feira, outubro 18, 2005

1964-2003

Se fosse vivo teria a minha idade. Passou toda a sua vida exibindo o seu mau génio, como um dos símbolos de Barcelona (eleito compulsivamente). Apresentava-se normalmente de costas voltadas para o público, espiando ocasionalmente por cima do ombro, com um olhar de desprezo impressionante. Quando se voltava, era normalmente para arremessar excrementos contra a populaça que o observava, por sorte protegidos por um grosso vidro. Era majestoso, altivo, como um grande rei africano. Vimo-nos cara a cara uma vez, e fitámo-nos mutuamente, o seu olhar arguto impunha um respeito impressionante. Uma vida de cativeiro nunca esmoreceu a sua altivez e a sua dignidade, e a sua revolta. Quis o destino que a causa do seu destaque fosse a causa da sua morte. Pela sua condição de albino contraiu cancro de pele. Mas como desde bebé lhe foi negado o direito básico da liberdade, pelo menos teve direito àquilo que é negado a muitos humanos: a eutanásia.

Cumprem-se 2 anos após a sua morte, e queria aqui prestar a minha mais humilde reverência a um símbolo de majestade constante num cativeiro ridículo. Posted by Picasa

Hibernação

É Outono! Lá fora chove. Obrigado pelas evidências da vida a despir-me da arrogância que os humanos têm em desvincular-se da sua condição animal primeira, recolho inexoravel e lentamente, como um urso à gruta. Adeus, até à primavera!

segunda-feira, outubro 17, 2005

A noite

Rezam as crónicas familiares, que quando eu era bebé, a minha avó paterna me ofereceu à lua, em ritual, para que eu não fosse vadio. Suspeito que os esforços da pobre mulher foram contraproducentes. Tenho vivido a maior parte do tempo da minha vida de noite. Posso pôr todas as desculpas possíveis para que isso acontecesse: a vida profissional, os sonos trocados, etc. O que é certo é que levo mais de um ano, tentando levar a vida de uma pessoa normal, e levanto-me cada dia às 7 da manhã, mas mesmo assim, a noite vem-me chamar à cama a meio do meu sono profundo, e arrasta-me para dentro dela, como se lhe pertencesse. Alguns dirão “sofres de insónias!”, não, não sofro de insónias, porque quando me é permitido durmo muito bem..............durante o dia! Conheço pessoas que levam anos a dormir 2 e 3 horas, e essas, sim, sofrem de insónias, mas eu não me aguentaria nesse ritmo. Por vezes, deito-me antes de jantar, ou faço uma sesta, quando posso. Mas mesmo quando estou morto de sono às 11 da noite, invariavelmente acordo a meio da noite, sem pesadelos, sem ruídos, apenas acordo.

Também se poderia dizer que prefiro a noite ao dia. Não tenho a certeza, pois gosto muito da clara frescura duma manhã de sol, de sair à rua e gozar da exuberância das cores e dos aromas que o dia traz. Das tardes de verão que sempre me remontam à minha infância (não sei porquê).
Por outro lado a noite tem o recolhimento e a intimidade, que o dia não tem. É certo que prefiro trabalhar de noite do que de dia. Concentro-me muito mais, e estou comigo mesmo.

Escrevo esta posta porque mais uma vez, e inexplicavelmente, acordei às 4 da manhã, depois de me ter deitado antes da meia-noite, e ter adormecido. Tenho um primo que é psicólogo, e que uma vez saiu num programa de televisão a explicar toda a história dos ciclos do sono. Bastante interessante, mas já não me lembro.

A noite tem a sua própria magia, algo de clandestino. Como quando comecei a trabalhar naquilo que viria a ser a minha futura profissão. Comecei na noite de Lisboa, que então era muito diferente do que é hoje. Era como um clube selecto a que muito poucos tinham acesso, e pouco a pouco, esse clube me foi abrindo as portas de par em par, até fazer-me membro honorário. Dei-me conta disso, quando há um par de anos me encontrei com um fotógrafo que conheço desde esses tempos, para lhe comprar algumas fotos recentes que me tinha feito. E quando lhe perguntei se ele tinha alguma foto desses tempos, e lhe comecei a referir lugares, personagens e datas, ele disse-me: “Mas isso foi no princípio de tudo! E tu estavas lá!”. Pois é, dei-me conta nesse momento que se tinham passado 20 anos, e que eu tinha feito parte dos primórdios da noite lisboeta. Quando o Bairro Alto era um bairro mal-afamado, onde só paravam putas e jornalistas (muitas das redacções residiam lá). Lembro-me da decadência, das putas, dos edifícios, e dalguns dos jornalistas, e outras personangens militantes da via alcoólica para o socialismo. Lembro-me da inauguração do Frágil (para verem o quão antigo sou), das noites passadas no Ocarina por vezes até entrarem as mulheres da limpeza. Lembro-me também das mudanças que me afastaram para outros lugares do Bairro Alto, ou mesmo para outros da cidade. Nessa conversa, com o fotógrafo, tive então consciência de que tinha feito parte de algo, sem o saber, e sem querer: os primórdios da noite de Lisboa! O mais engraçado é que eu não sou de Lisboa, nem nunca morei em Lisboa. Mas isso pouco interessa à noite, que ainda aqui em Barcelona, continua a reclamar a minha presença, nem que seja a ler um livro, a ouvir música com os auscultadores, ou a ver um filme. A noite sabe que o meu corpo já há muito tempo não me puxa para a borga, e que o “bater as capelinhas” foi coisa do qual me cansei há muitos, muitos anos. Então dedico-me a velar o sono dos meus, e a encontrar-me comigo no escuro..........................e conversar.

Não sei se algum dia a noite me vai deixar dormir em paz, mas entretanto vou-me questionando: hábito ou doença? Maldição ou benção? Pouco me interessa. Como li há pouco na Corveia: “Se entendes, as coisas são como são, se não entendes, as coisas são como são!”

quarta-feira, outubro 12, 2005

segunda-feira, outubro 10, 2005

Defesas anti-aéreas

Rapazes e raparigas, comentadores e comentaristas habituais e eventuais deste blog. É com grande pena minha que me vejo obrigado, eu também, a pôr a verificação de letras (o tal word verification, embora as words sejam muito esquisitas) quando voxelências se dignam a comentar o que acham digno e oportuno de tal coisa. É que neste preciso dia, em que muitos de vocês devem estranhar tamanha febre "postal" minha (estou em casa com gripe), este vosso blog servidor foi bombardeado por infames comentários publicitários. Assim, para que tanto vocês, e principalmente eu, nos vejamos livres desses bombardeios vejo-me obrigado a forçá-los a este pequeno incoveniente, para que o ar continue respirável aqui no curral da Burra. Só esperamos (eu e a Burra), que isso não vos atemorize ou esmoreça os vossos sempre benvindos comentários. Como dizia o outro, da discussão nasce a luz, e como dizia a saudosa Drª Rute Remédios "As opiniões são como as vaginas, cada um tem a sua e quem quiser dá-la, dá-la!!". Bem haja a vossa compreensão.

Os destroços já foram removidos pelas brigadas de limpeza, o caminho está livre!

A vista que eu tinha da janela quando trabalhava no Citibank, na Pla�a Catalunya, em Mar�o de 2003 Posted by Picasa

Meninos & Meninas

Desculpem lá, mas ao ler uma posta da Sandra Feliciano, não pude deixar de reflectir sobre o assunto. Ou sou eu que arrogantemente estou num estado superior da evolução humana, como várias vezes me foi apontado, ou então nasci no país errado, e às vezes suspeito que no planeta errado, também. Não entendo como é que toda a gente se põe “em bicos-de-pés” dizendo que estamos no século XXI, e tal, e a evolução tecnológica, e mais não sei quê, e a evolução social, e o ocidente e o oriente, e os direitos humanos, e os direitos dos animais, e salvem a terra, e a baleia, e a formiga d’asa, e mais não sei quê. É que ainda se anda a discutir as coisas das mulheres e as coisas dos homens, e ainda se anda a falar das mulheres como se tratassem duma minoria étnica em vias de extinção. Ora, se bem me parece, penso que a nível mundial existem muito mais mulheres que homens. Então? Que é que falta?
Pode ser que seja muito pretenciosismo da minha parte, mas eu tenho amigos homens, mulheres, negros, mulatos, indianos, cegos, deficientes motores, homossexuais, lésbicas, àrabes, velhos, jovens, e nunca tratei ninguém diferente pela condição daquilo que é, mas sempre por quem é. Há gente extraordinária de todos os formatos e feitios e cores, assim como existem pessoas extremamente estúpidas nas mesmas condições, ainda que aqui em Espanha tenham tendência para se agruparem todas no PP, o que facilita o reconhecimento.
Andar nos dias de hoje a debater o que é das meninas e o que é dos meninos, é, para mim, perfeitamente absurdo, ainda que concorde que tristemente, continua a ser necessário. As mentes iluminadas da nossa sociedade debatem ferozmente estas e outras questões, e no final voltam todos às suas respectivas cavernas.

Resultado das Eleições

"Raede Ceasare quae sunt Ceasaris", "Raede Populum quae sunt Populis"

E depois ainda há quem me pergunte o que é que eu faço aqui. Não sei! É que até nova ordem só tenho esta vida para viver, e o D. Sebastião nunca mais chega, e já lá vão 400 anos. Começo a suspeitar que os políticos portugueses são uma mutação. Em vez de estômago têm papo.

domingo, outubro 09, 2005

Ainda o 3º Aniversário

Ainda a propósito destes 3 anos que passaram, queria deixar-me das inevitáveis queixinhas, e falar sobre aquilo que aprendi, e de que me lembro.
O primeiro mês foi a incógnita total. Quase não consegui dormir, entre a excitação de toda a vida pela frente para consolidar coisas, e o facto de estar a morar entre a calle Aragón (que tem 6 faixas de trânsito) e a Avenida Diagonal (outras tantas). Lembro-me que o casal que morava no andar de cima fazia amor pontualmente à uma e meia da manhã, quase como quem escova os dentes antes de dormir. Vinha-me sempre à memória uma canção da Joni Mitchell:" The Crazy Cries of Love".
Depois o princípio duma nova rotina, começando a dar aulas na escola Passatge. Começando a aprender a dar aulas. O aperto de ver o meu dinheiro a chegar ao fim, e a salvação que constituiu a minha entrada no departamento de cobranças de visa no Citibank, departamento de Portugal. A seguir o desencanto. Começa a guerra do Iraque, lá fora a população manifestava-se, e eu sentindo-me como um traidor a soldo do inimigo. Três semanas depois era despedido duma maneira ignóbil, como é uso e costume deste tipo de instituições “respeitáveis”. Quanto mais “respeitáveis”, mais ignóbeis os seus procedimentos.
Foi também o conhecer um novo universo e novas culturas: a catalã, a espanhola, e principalmente a latino-americana. A latino-americana por mão dos meus amigos argentinos, chilenos e venezuelanos. Constatar como Espanha mantém fortes laços culturais e económicos com as suas ex-colónias, e compará-lo com o “virar de costas” do estado português às suas. Ver como os actores, escritores, pintores e músicos espanhois são conhecidos e apreciados na América Latina, e vice-versa, constituindo assim um mercado cultural quase inesgotável.
Foi aproximar-me ao flamenco, que desde sempre me havia seduzido através de Paco de Lucia e do seu grupo, e descobrir todo um universo de cores e sons, muito mais aberto do que eu pensava.
Foi também aproximar-me à cultura marroquina, através dos meu alunos dum centro de jovens em Terrassa. Descobrir que afinal não somos tão distantes, nem na religião, nem na cultura. Descobrir de onde vieram certos ritmos portugueses. Descobrir que eles podem estar um pouco atrasados, mas que são iguais ao que nós éramos há 30 anos atrás.
Foi aprender que no bairro onde vivo, podem conviver diferentes etnias, religiões e culturas em relativa harmonia, unidos pela comum condição de imigrantes, e que é tão fácil ser simpático. E como este fenómeno está a mudar a face da cidade.
Muitas vezes me perguntei porque é que a Europa rejeita tão veemente a integração dessas novas culturas que vêm até ela, desaproveitando uma oportunidade de ouro para uma regeneração que se anuncia urgente e já tardia?
Nesse sentido, tudo parecia bem em Portugal a princípios dos anos 80, e que a pujante exuberância e creatividade das pessoas que recentemente tinham chegado das também recentes ex-colónias estava a contagiar beneficamente a sociedade portuguesa. Depois, veio a entrada na CEE, e os sucessivos governos cavaquistas, e as cores empalideceram, e se acinzentaram. Um amigo meu argentino disse-me que é o medo a crescer, que é o medo a mudar uma estrutura que de tão velha já cai aos bocados, e que desesperadamente se tenta manter a todo o custo. Mesmo a custo de esquecer velhas querelas de séculos e criar uma união.

Os nossos poetas

Um amigo meu mandou-me isto por emilio. Que é que vos parece?


Esta é a ditosa pátria minha amada. Não.
Nem é ditosa, porque o não merece.
Nem minha amada, porque é só madrasta.
Nem pátria minha, porque eu não mereço
A pouca sorte de nascido nela.

Nada me prende ou liga a uma baixeza tanta
quanto esse arroto de passadas glórias.
Amigos meus mais caros tenho nela,
saudosamente nela, mas amigos são
por serem meus amigos, e mais nada.
Torpe dejecto de romano império;
babugem de invasões; salsugem porca
de esgoto atlântico; irrisória face
de lama, de cobiça, e de vileza,
de mesquinhez, de fatua ignorância;
terra de escravos, cu pró ar ouvindo
ranger no nevoeiro a nau do Encoberto;
terra de funcionários e de prostitutas,
devotos todos do milagre, castos
nas horas vagas de doença oculta;
terra de heróis a peso de ouro e sangue,
e santos com balcão de secos e molhados
no fundo da virtude; terra triste
à luz do sol calada, arrebicada, pulha,
cheia de afáveis para os estrangeiros
que deixam moedas e transportam pulgas,
oh pulgas lusitanas, pela Europa;
terra de monumentos em que o povo
assina a merda o seu anonimato;
terra-museu em que se vive ainda,
com porcos pela rua, em casas celtiberas;
terra de poetas tão sentimentais
que o cheiro de um sovaco os põe em transe;
terra de pedras esburgadas, secas
como esses sentimentos de oito séculos
de roubos e patrões, barões ou condes;
ó terra de ninguém, ninguém, ninguém:eu te pertenço.
És cabra, és badalhoca,és mais que cachorra pelo cio,
és peste e fome e guerra e dor de coração.
Eu te pertenço mas seres minha, não!


Jorge de Sena


Parece que o rapaz estava com maus fígados. No entanto......

sexta-feira, setembro 30, 2005

Três anos

E passaram 3 anos. Na verdade não passaram assim tão rápido. Como dizia um slogan publicitário de uma marca de relógios "O tempo é o que se faz com ele". Passou-se muita coisa durante estes 3 anos. Desde a incerteza da aventura inicial, até à quase estabilidade dos dias de hoje, muita àgua passou debaixo da ponte. Desde o minúsculo quarto alugado em casa da Laia Cagigal, minha colega na escola Passatge, até ao minúsculo apartamento onde vivo.
Foi uma decisão difícil, de consequências dificeis. Mas ao mesmo tempo, quase uma decisão para a qual a própria vida me empurrou, e para a qual eu sabia que não havia volta atrás. E neste preciso momento, a volta atrás é algo perfeitamente inconcebível. E noto isso quando alguém me pergunta inusitadamente se eu neste momento voltaria a viver em Portugal. A minha reacção primeira é de surpresa total, porque é uma opção que me passa tanto pela cabeça como ir para padre, e como consequência a minha resposta imediata é negativa. E sai-me sem qualquer tipo de hesitação. Quer dizer isso que renego a 38 anos da minha vida? Não, em absoluto! Continuo a ser tão português como antes. Sou, e serei portador de uma herança cultural, e de uma experiência de vida que nenhuma condição apagará. Sou o que sou e quem sou, porque vivi o que vivi, onde vivi e com quem vivi. Renegar isso, seria renegar-me a mim mesmo, e tenho por experiência pessoal, que a maior certeza que existe na vida, além da morte, é que até que a morte chegue, terei que viver comigo mesmo, e é de toda a conveniência que essa convivência seja o mais pacífica possível. Não sei se me faço entender bem.
Mas foram 3 anos em que não tive que lutar diariamente pelo respeito que me é devido por ser pessoa, e muito raramente fui alvo do mau-humor dum qualquer imbecil que acordou mal-disposto, seja na rua, nas instituições ou no trabalho. Não tive que andar atrás de ninguém quase implorando que me paguem o meu trabalho nos prazos acordados (por vezes foram meses, mas já o sabia à partida, e pagaram-me quando eu o esperava). Em que vi o meu trabalho devidamente valorizado e respeitado por colegas e clientes, tendo estes sempre uma palavra amável, que nos ajuda sempre a acreditar cada vez mais em nós próprios, e a aligeirar a carga que o trabalho em si possa constituir. Foram 3 anos em que por me esforçar por ajudar-me, muita gente e instituições me ajudaram, em vez de me dificultarem o caminho. Foram 3 anos, ao fim dos quais posso dizer que me sinto uma melhor pessoa, muito longe da imagem dum tipo azedo, tristonho e desiludido que se punha diante dos olhos cada vez que pensava no meu futuro, quando vivia em Portugal. Ao mesmo tempo dá-me uma certa raiva, porque podia ter e ser isto tudo sem ter que sair do meu próprio país, bastava que o povo ao qual pertenço fosse um pouco mais inteligente emocionalmente. Desgraçadamente esse povo escolhe o caminho do "chico-espertismo" com todas as consequências que daí advêm, e que cada vez mais saltam à vista de quem queira ou não queira ver. Existe a firme crença que é mais fácil despejar a merda do nosso quintal para o quintal do vizinho, em vez de a limpar. Existe a firme crença que "trabalhar é bom para o preto", e que é mais fixe ser "muita esperto", enganar os outros, fugir aos impostos, e viver de esquemas que sempre tramam alguém. Um gajo tem que se safar (consultar anterior posta). Os efeitos desta "vocação" nacional tornaram-se palpáveis com os sucessivos anos de incêndios. Assim como a terra, os recursos sociais queimam-se, e tornam-se àridos e só alguns poucos beneficiaram alarvemente deles. E quando uma "mama" seca, inventa-se outra, até que todas sequem. E não é de agora, é de sempre. Só nos orgulhamos de ser portugueses através dos Carlos Lopes, das Rosas Motas, dos Campeonatos Europeus de Futebol, das Expos 98, e outros que tais, que nos puxam a lagriminha ao olho, porque parece sermos incapazes de nos orgulharmos individualmente de nós próprios. Falo, obviamente de uma maneira geral. Indentificamo-nos com os herois nacionais que nos apaziguam a consciência, e nos fazem sentir um pouco menos miseráveis.
Lá estou eu de novo no choradinho de sempre! Desculpem-me os leitores, mas é que ainda não consegui superar uma série de coisas, como ainda não consegui explicar aqui a ninguém esta relação amor-ódio com o meu país. E também me mete raiva não conseguir resolver isso, porque é muito difícil demarcar a fronteira onde acaba o amor e começa o ódio. Pelo menos não me é indiferente, e isso já é algo que me descansa. Como dizia o professor Agostinho da Silva, existem os povos "ou" e os povos "e", a maior parte dos povos são "isto ou aquilo", mas há povos como o português que são "isto e aquilo e várias coisas ao mesmo tempo". Provavelmente sofro eu também da tendência geral do ser humano de querer explicar o inexplicável, para me sentir mais seguro, para ter algo onde me agarrar.
Bom, mas seguindo com o dizia antes, uma das conquistas mais importantes, ou talvez a mais importante, foi o facto de eu ter conseguido reunir as condições para ter o meu filho Sérgio a viver aqui comigo, e ver que ele se sente contente e feliz com isso, apesar das muitas saudades que tem da mãe, do irmão, da família e dos amigos.
Passei estes 3 anos numa cidade maravilhosa, que dá gosto sair à rua e admirar os seus edifícios. Dá gosto passear pelo bairro, mesmo sendo o mais degradado da cidade, e entrar num café paquistanês, comprar um pão galego, beber um café italiano e comer uns pastelinhos marroquinos, tudo no mesmo sítio. Passear no centro da cidade ao domingo e ver as ruas cheias de gente, e pensar que a baixa de Lisboa nesse preciso momento estará deserta, apenas com alguns turistas para apreciar a sua glória, enquanto a típica família lisboeta se passeia pelo Colombo, ou pelo Vasco da Gama. Vivi 3 anos sem saber o que é o sigilo bancário, e que se eu (ou qualquer outro cidadão) se escusa a pagar uma multa, ou um imposto, ou seja o que for, o estado ou o governo regional aleija onde mais doi: na conta bancária. Vivo há 3 anos num sítio onde em vez de ir para longas bichas para comprar impressos, e outras tantas para os entregar, apenas faço uma chamada telefónica conserto dia e hora, e faço a minha declaração de impostos em 10 minutos. Onde o liceu onde estuda o meu filho me faz pagar apenas 100€ por livros e material escolar por todo o ano lectivo, e que desses 100€, o governo central comparticipa com 85€. É que os livros servem de um ano para o outro, e pertencem à escola. E com grande satisfação minha, esse liceu receberá o Premio Educação 2004, da Generalitat da Catalunya (o governo regional), dando assim um exemplo a toda a região, e quiçá ao resto do estado espanhol. Três anos ao fim dos quais, pude dar-me ao luxo de não trabalhar no mês de Agosto, e poder descansar, coisa que não me acontece há aproximadamente 20 anos. Lembro-me de tirar 3 semanas de férias em Dezembro de 1985, e outras 3 semanas em Janeiro de 1997.
Foram apenas 3 anos que passaram, mas foram 3 anos de àrdua luta, que finalmente começam a dar os seus frutos. Foi uma loucura, recomeçar tudo de novo quase com 40 anos. Ao passo que há 5 anos atrás, em Portugal, depois duma semi-ausência de 2 anos, fui obrigado a começar tudo de novo, como se nunca lá tivesse vivido e trabalhado durante pelo menos 20 anos. Começar de novo, por começar de novo, decidi começar de novo num sítio onde vale mais a pena. E efectivamente vale! Não é nenhum paraíso, nem esperava isso, apenas esperava poder viver uma vida normal, entre gente normal, num país normal. Muitas vezes tenho saudades da esquizofrenia colectiva do povo português, mas os custos são demasiado dolorosos.

sábado, setembro 24, 2005

Afinal a jiboia era outra!

Primeira gripalhada do pós-férias! Assim a modos como a dizer-me "já estamos no outono, deixa lá os chinelos, e calça-te alguma coisa que agasalhe mais os chispes". Pois é, e quem é que diz agora aos pés para se enfiarem dentro de tenis, sapatos ou botas, quando estão desde Maio, alegremente "laureando a pevide" ao léu, com os chinelitos? Sim, os mesmos chinelitos-de-enfiar-o-dedo que há 30 anos só os pobres e desleixados usavam, hoje são ostentados como uma peça de roupa indispensável ao mais fashion dos veraneantes. Aqui chamam a isso, favela-fashion. Ainda não percebi se é uma piada de mau-gosto, se é pura ignorância. Para mim, é o conforto.
Com esta idade, e ainda tenho dúvidas quanto aos sinais do corpo. A mandriice que me vinha atacando há uns dias, não era senão a costumeira gripite do equinócio, que sempre me apanha à traição no outono, ou na primavera. Naquelas alturas absurdas que nunca se sabe o que vestir, e que se resiste até à ultima na indumentária estival.
A propósito de sinais do corpo. Eu já tinha conhecimento do modus operandi sueco, Sandra. O que se passa é que o autor deste livro fala de nórdicos, mas refere-se a alemães, ingleses, belgas, holandeses e quejandos. Não me parece que os suecos, finlandeses e noruegueses estejam englobados nesta definição. Até porque a sua filosofia de vida, muito pouco tem a ver com eles. O autor do livro tenta explicar algo que é uma tendência natural da essência de cada povo. Os nórdicos de que ele fala, tem uma adoração pelo trabalho, pela organização, pela productividade, e pela eficiência. Valores, que de uma maneira geral, são um pouco estranhos aos povos mediterrâneos, mais peritos no ócio criativo, como a convivência, as artes, a gastronomia, e outras coisas que tais. Obviamente que tudo isto de uma maneira muito geral.
Mas disso já tinha falado bastante o nosso querido Agostinho da Silva, que embora estivesse certo no seu raciocínio, por vezes carecia de um certo realismo. É que o ser humano é bastante surpreendente, mas normalmente surpreende para o pior, muito mais do que para o melhor.
Pessoalmente, sempre achei que o esforço industrializante do Portugal pós-CEE era ridículo, pois tentar competir em quantidade com Alemanha, França, Reino Unido, e até com Espanha, era na melhor das hipóteses dar um passo muito maior do que a perna. Muito melhor teria sido apostar numa produção pequena, mas de qualidade, nomeadamente na agricultura (em vez disso, practicamente se aniquilou), e vendê-los como delicatessen, com denominação de origem, a exemplo do que fizeram os belgas e os suiços com o chocolate, que nem sequer é originário de lá. Muito melhor teria sido apostar por uma oferta turística de qualidade a preço acessível, e não deixar fazer o que fizeram com o Algarve, e pelos vistos, o que estão a fazer no litoral alentejano. Mas não, há sempre a tendência saloia de se pôr em bicos de pés, sem sacar proveito da nossa própria dimensão. Sou português, mas sinceramente, nunca entendi o meu povo. É-me extremamente difícil explicar aqui aos meus amigos o que é Portugal e os portugueses, ficam sempre sem perceber nada, e eu idem.

Mudando de assunto. Festas da Mercè. A festa maior da cidade de Barcelona, a que eu pela primeira vez me juntei, como convidado do grupo Bazar. Teve um gostinho especial tocar na Plaça Catalunya, mesmo em frente do edifício, onde há 2 anos e meio tive uma das piores experiências laborais da minha vida, trabalhando no departamento português das cobranças de contas visa do Citibank. O trabalho em si já era horroroso, mas uma sub-chefe gratuitamente déspota e arrogante, completava o quadro, como uma ginja em cima do bolo. Esta gente continua a acreditar que a productividade se consegue à custa de má-onda e intolerância. Nessa época, tinha iniciado recentemente a 2ª guerra do Golfo, e as manifestações na cidade eram diárias, e as concentrações na Plaça Catalunya, também. Sentia-me a trabalhar para o inimigo.

quarta-feira, setembro 21, 2005

Preguiça Productiva

Afinal parece que a preguiça produz alguma coisa. Mais que não seja o encontro (ou reencontro, não percebi bem), entre 2 postantes habitués aqui da Burra. E é que para mim o encontro tertuliante entre pessoas é do melhor que há. Ainda que sejam 2 pessoas que infelizmente não conheço pessoalmente, são sempre benvindos.
Não sei se a propósito ou não, mas comprei um livro num alfarrabista por 1€, cujo título é "La Mediterrània i els bàrbars del Nord", e como subtítulo a jeito de explicação diz: "Els nòrdics ens han industrialitzat el món, propiciant una nova societat de l'oci on els esclaus seran les màquines. Ha arribat l'hora de tornar a l'ideal epicuri i humanista de la Mediterrània". O título chamou-me a atenção, por uma frase minha, constante em discussões filosofico-políticas com norte-europeus. Principalmente quando faziam comentários desagradáveis acerca dos povos do sul da Europa. Apenas lhes lembrava que historicamente está provado que do norte da Europa nunca veio nada realmente aportador e inovador para a humanidade.
Ainda sobre livros, ontem recebi uma prenda de valor incalculável para mim. Os meus queridos pais enviaram-me por correio, uma edição de 1974 das obras completas de Guerra Junqueiro. Delicio-me sempre ao ler os versos da "Velhice do Padre Eterno", infelizmente não há versão traduzida aqui deste lado, portanto faço o possível por partilhar a genialidade do poeta com os meus amigos daqui.

Nota final: hoje a jibóia transformou-se em dor de cabeça fulminante, e quase nem saí da cama! Nem consegui ler o Guerra Junqueiro.

terça-feira, setembro 20, 2005

A Preguiça

Ataca sempre de mansinho, como uma jibóia que se enrola à volta do pescoço. E sempre me apanha quando mais preciso de estar desperto e activo para afrontar o novo ano de trabalho. E quanto mais tento resistir, mais me aperta.

domingo, setembro 11, 2005

Diada de Catalunya

Hoje é o dia da Catalunha. Desde quando? Desde que no século XVIII, uma revolta de ceifeiros foi esmagado pelos espanhóis, e os converteu em mártires da nação catalã. É extraordinário o sentimento positivo deste pessoal ao celebrar uma derrota. Seria o mesmo que os portugueses celebrassem a data da batalha de Alcácer Quibir (Qsar El Kabir). A propósito, muitos dos meus alunos marroquinos são de lá.
E o trabalho continua, para bingo, espero!

sábado, agosto 06, 2005

Deixa arder que o meu pai é bombeiro!

30 incêndios descontrolados em Portugal, e o primeiro ministro de férias no Quénia! Estou sem palavras, e quase sem vontade de voltar nem que seja de férias! Tento preservar a imagem do Portugal que conheci outrora. Verdejante, esplendoroso, para mim o país mais bonito da Europa! Pelo menos seguirá existindo na minha memória. Glória eterna aos bombeiros, que além de serem as únicas pessoas que fazem alguma coisa para que o país não desapareça, parece-me que são os únicos voluntários da Europa. São pessoas normais e correntes que além de lutarem contra o fogo (que já é um inimigo titânico), lutam contra a negligência de um estado autista. São os portugueses verdadeiramente patriotas, que arriscam a própria vida para salvar o que é de todos, não arriscam uma carreira política.

sábado, julho 30, 2005

Férias

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Obrigado pela vossa atenção!

sábado, julho 23, 2005

The Return Of A Pensar Na Morte Da Bezerra

Ok! Sao 2 da manha, estao 34º e 95% de humidade no ar. O que equivale a dizer que estou a suar em bica, e a beber litros de àgua para repôr. Por isso nao sei se tenho as ideias muito claras, mas vamos a isto. Perdoem-me a falta de acentos, mas o computador onde escrevo nao é o meu, e o teclado nao tem til.
As reacçoes à ultima posta em que me pus a pensar na morte da bezerra, trouxeram outros elementos ao debate. Nomeadamente, o Rogério Charraz falou no elemento coerência, do ponto de vista de que deveriamos fazer aos outros o que gostamos que nos façam, e vice-versa. Ideia essa atribuída a um tal Jesus, que segundo reza a lenda, era um revolucionário na sua época. Parece-me bem que essas ideias ainda sao revolucionárias ainda hoje, pois conheço muito pouca gente capaz de pôr em práctica essa famosa coerência. Nem sequer falar em pensar ao de leve o facto de se deixarem pregar na cruz, como parece que aconteceu ao rapaz, pelo simples facto de ser coerente. Obviamente nao é necessário chegar a tais extremos, mas decididamente acho pouco edificante que a nossa sociedade ache perfeitamente normal a falta de coerência. E acha tao normal a falta de coerência, que julgo que o substantivo apropriado para esse sentimento, se chama demagogia. Ora isso todos sabemos (uns mais, outros menos) que é práctica comum entre a classe política, e que aparte de ser considerado uma coisa normal, é exibida com apanágio. Inclusivamente, (entre a classe política) quem melhor seja demagogo no seu discurso, melhor político será.
Mas deixemos isso, por agora (senao isto nao acaba nunca). Senso comum e coerência. O que é isto? Bem, quanto ao senso-comum, muito ainda haverá por dizer, mas sendo grosseiramente pragmático, vamos supôr que é o tal conjunto de valores que permite practicar a sabedoria, esta resultado de um conhecimento (ou experiência), e este resultado de informaçao absorvida. Agora, coerência? Sendo pragmaticamente grosseiro de novo, arrisco dizer que a coerência é o viver e actuar de acordo com o que nós próprios acreditamos, com os nossos valores, em definitivo, com o nosso senso-comum. E aqui começam as contradiçoes! Vamos lá a ver se nao me baralho.
Comecemos pelo senso-comum. O senso-comum (grosso modo) diz-nos o que está bem e o que está mal. Mas eu, que sou um egocêntrico, e este é o meu blog, e eu falo de mim aquilo que me apetecer, sem cargos de consciência. Como dizia, eu, já nao acredito nessa treta dos filmes de cobóis, e da biblia, dos bons e dos maus. Nem do ying e do yang, nem das forças brancas, nem das forças negras, e o diabo que os carregue! As coisas, as pessoas e os bichos nao sao bons nem maus, sao aquilo que sao, e ponto final! Acontece que temos uma resistência tremenda áquilo que nao entedemos, e como nao entedemos, vêm ao de cima as nossas inseguranças, consequência dos nossos medos. Por conseguinte, aquilo que nao entedemos e nao nos é agradável, é mau, e aquilo que sim, é bom. Vocês, nao sei, mas eu acho isto um bocado infantil. Nomeadamente, porque nos condiciona a vida de uma forma estúpida, pois toda a gente quer ser dos bons. E quando gente assim tem poder nas maos, a coisa pode inclusive ser perigosa! Isto para nao falar do facto de que, partindo do ponto de vista do mal e do bem, cada coisa tem o seu contrário. Como resultado, para os que se consideram bons, os maus sao maus, e para os considerados maus, sao os que se consideram bons é que sao maus, e vice-versa (nao sei me estou a explicar bem).
No entanto, acredito mais no senso-comum como uma inteligência instintiva, e parece-me mais lógico e aceitável dividir as coisas entre inteligente, e nao-inteligente, mas de uma maneira instintiva. E isso que quer dizer? Quer dizer que sabes que uma coisa deve ser feita de tal maneira, nao sabes explicar porquê, nem tens que explicar porquê, porque há certas coisas que nao nasceram para ter explicaçao. Mas acontece que desde os filósofos da antiguidade, que a malta tem a mania de andar sempre à procura do porquê de tudo, vai-se lá saber porquê. Inclusive, eu, estou para aqui à procura do porquê do senso-comum, da coerência, e do raio-que-me-parta, isto tudo culpa do Frank Zappa (glória a ti nas alturas), contradizendo-me de uma forma perfeitamente incoerente. Pois se eu acho que as coisas sao aquilo que sao, e ponto final, para que é que ando aqui a discutir o sexo dos anjos? (O calor está-me a desconcentrar)
Agora a coerência. A coerência gera lutas internas imensas, pois é muito bonito pregar o que seja, mas na base do "faz aquilo que eu digo, e nao faças aquilo que eu faço". Só mesmo grandes malucos é que fazem e vivem segundo aquilo que dizem. Ou entao nao se diz nada, para depois nao terem que se aguentar à jarda de viver segundo o discurso que tao efusivamente botaram. Instintivamente sempre tentei viver em coerência, e nao é tarefa fácil! Para começar, ganhei entre os meus amigos a reputaçao de ser um gajo fixe, mas completamente chanfrado, pois metia-me em alhadas tremendas, só pelo facto de agir de acordo com a minha consciência. E é verdade! Meti-me em alhadas tremendas, que me ajudaram imenso a crescer, tais foram as pantufadas que levei. Mas também é verdade, que se nao agisse de acordo com o que me ditava a minha consciência (ou senso-comum), instintivamente, sentiria como se fosse uma traiçao a mim próprio! Nunca ninguém entendeu isso! Toda a gente pensou que eu queria provar nao-sei-quê a nao-sei-quem. Cedo entendi, que por muito que se lute para ter o controle da própria vida, essa luta é inglória e mais do que isso, inútil. Pois cada um tem que viver a vida que tem para viver, e aproveitá-la ao máximo. Como aquela tirada brilhante atribuida ao John Lennon: "a vida é aquilo que te passa, enquanto fazes outros planos". Portanto, o melhor é estar atento ao que a vida nos reserva, e aproveitá-lo. E quando o sr. Murphy e a sua lei se lembram da malta, aguentar-se à bronca, que a coisa há-de melhorar, pois depois da tempestade vem sempre a bonança. Ou seja, viver seria quase como navegar: aproveitar o vento, a maré, e apontar numa dada direcçao. Pode ser que lá cheguemos, ou nao, mas o importante de tudo, no final, é gozar o passeio. Pois se vivemos obcecados com a chegada, olhamos para trás, e nao vimos nada. E isso deve ser muito triste!
Viver com senso-comum e em coerência? Que quer dizer isso? Viver de acordo com uma inteligência instintiva, da qual faz parte a máxima "nao faças aos outros aquilo que nao gostas que te façam"? Sim, mas nao como uma lei, ou uma conduta moral à qual estamos obrigados, mas por uma questao de inteligência, porque assim viveremos todos muito melhor. Porque pelo facto de se empurrar a merda que nos toca limpar, para cima do parceiro, estamos como estamos desde o princípio dos tempos. Tomem o exemplo dos mongoloides, que sao pessoas afáveis, sinceras, carinhosas, simpáticas e simples, por natureza, e aos quais, nós os normais, lhes atribuímos tao pouca inteligência. Onde é que está a inteligência, entao?
Vou bater com o focinho na palha, que já nao digo coisa com coisa. E quanto à bezerra, paz à sua alma!

sábado, julho 16, 2005


Ontem � noite estive no c�u, e conheci Deus. Ainda estou em transe, levitando a 2 palmos do ch�o. N�o consigo sequer articular um coment�rio! Posted by Picasa

quinta-feira, julho 14, 2005

A pensar na morte da bezerra strikes again

Os comentários (sempre benvindos, e agradecidos) acerca da “posta” lançada 3 postas abaixo, junto com a releitura da mesma, fez-me ainda debruçar mais sobre o assunto, a níveis de quase insanidade. E como estas coisas são demasiado grandes para uma pessoa aguentá-las sozinha, aguentem lá vocês também.
Partindo do princípio em que a sabedoria é conhecimento posto em práctica através do senso-comum, decidi tentar analisar e concretizar o mais objectivamente e pragmaticamente possível esta etérea substância da psicologia social. Vamos supôr que o senso-comum é um conjunto ético-moral de regras adquiridas tanto pela aprendizagem veiculada pela família, como pelas nossas experiências sociais ao longo dos anos. E como tal, o senso-comum torna-se também numa entidade reguladora do nosso comportamento. Torna-se a nossa consciência, o nosso "grilinho falante", aquilo que nos diz "o que está bem, e o que está mal". E aqui é que "a porca torce o rabo"! Chegado aqui, encontrei-me com várias e importantes questões, que passo a enumerar, por ordem desordenada:
– O senso-comum pode ou não ser isolado das nossas fobias e paranoias, que também condicionam o nosso comportamento?
- Utilizamos o senso-comum por conveniência? Para sentirmo-nos melhor connosco próprios? Para nos sentirmos melhores com os outros? Quando não estamos distraídos?
Sendo um mecanismo que nos diz “o que está bem, e o que está mal”, qual é a medida de cada um para isso? Ou há uma medida global?
Até que ponto é que “o que está bem” está mesmo bem, ou é um situação que nos faz sentir satisfatoriamente seguros? E até que ponto “o que está mal” é exactamente o contrário?

Levando em consideração a última questão, devo ter em conta que para que nos sintamos satisfatoriamente seguros, teríamos uma lógica e coerente tendência para fazer o bem, e com isso além de nos proporcionarmos bem-estar, consequentemente o proporcionaríamos aos outros. E com isso, se desencadearia uma reacção em cadeia de bem.estar geral. Então o que é que falha? Se organicamente temos tendência para o bem, porque é que o mal ganha cada vez mais terreno? Será porque cada um tem a sua concepção do bem, e só essa é válida, e não temos em consideração as concepções benfazejas dos outros?
Li uma vez nalgum sítio "se queres mudar o mundo, muda-te primeiro a ti próprio, e o mundo mudará". A princípio não entendi muito bem o sentido da frase, mas com o passar do tempo entendi uma série de coisas relacionadas com o assunto. Entendi que sempre buscamos factores externos para os nossos males internos, como quem procura colírio para uma unha encravada. Sentimo-nos bem em fazer alguma coisa para resolver o problema, ainda que essa coisa seja absurda e inútil. Porque fazer alguma coisa que possa desiquilibrar a delicada arquitectura psicológica que nos levou tantos anos a construir, é algo impensável e de consequências imprevisíveis. Além de que delegamos nos outros a responsabilidade, que não assumimos nós próprios, de ser felizes.
Então, se a nossa concepção do bem é passível de erro, se a maneira como a aplicamos, idem, essa pode ser uma das razões para a falência do senso-comum? E como consequência, a ausência de sabedoria? E isto sem analisar a nossa concepção do mal, e como o evitamos.
Tenho os neurónios à bofetada uns com os outros. Acho que vou para a praia pedir conselho aos peixes, pode ser que tenham aprendido algo com o Stº António.

segunda-feira, julho 11, 2005

Coquetices

A Burra também é coquete, e como tal gosta de mudar de roupa, de vez em quando. Este lindo conjunto de verão, fresquinho e verdejante, serve também para acomodar um práctico "bolsinho" para pôr os links que merecem uma espreitadela. Como o modelo "primaveril" não continha tal adorno, achei por bem pô-lo, mais que não seja por agradecimento e retribuição aos blogs que tiveram o carinho suficiente para incluir a Burra nos seus links.

Beijocas, vou para a praia!

sexta-feira, julho 01, 2005

Patrícios

Os últimos 6 meses foram prolixos em visitas de amigos, familiares e conhecidos aqui por estas bandas. Quero agradecer a todos por me terem trazido um bocadinho de casa, e principalmente aos meus pais, por me terem trazido "a casa". Por cá passaram o João Afonso, o Moz Carrapa e o Paulo Borges, os quais me presentearam com um dia de petiscada, com concerto de alta qualidade, no final do dia (o trabalho do João está cada vez melhor e recomenda-se vivamente). Passaram também os meus companheiros do Pateo das Cantigas, onde travámos duras batalhas contra o tempo e contra o electrão rebelde, em prol do jingle publicitário, aos quais devo uma noite de copofonia e boa conversa. Um abraço grande ao Rui Miguel, ao Artur Santos, e aos Pedros. Passou também o Vasco Sousa, que além de me ter presenteado com a oportunidade primeira de ver ao vivo um magnífico concerto da Mariza, deu-me também a maravilha de ver o Palau de la Música Catalana por dentro. E, senhores, como canta esta mulher! Arrepiou-me todo, e fez-me emocionar, a malvada! Foi também a oportunidade de rever o João Pedro, e mais uma vez..............petiscada e boa conversa! E, obviamente, os meus pais que os 5 dias que aqui estiveram foram demasiado curtos para matar as saudades de quase um ano sem nos vermos. São as coisas que nos fazem sentir mais vivos!

A pensar na morte da bezerra

Já quase no final do 3º disco da trilogia “Joe’s Garage”, Frank Zappa (glória a ti nas alturas), pôs uma rapariga a dizer um texto que começava mais ou menos assim: “informação não é conhecimento, conhecimento não é sabedoria, sabedoria não é beleza, beleza não é amor...” e continuava. E realmente todos estes anos tenho pensado na extraordinária capacidade que o ser humano tem para armazenar informação. Mas será que ao armazenar toda essa informação, essa se converte automaticamente em conhecimento? Partindo do princípio que temos por natureza uma mente catalogante e "carimbante", inclino-me a pensar que sim, que podemos organizar essa informação de forma a constituir algo chamado conhecimento. E a sabedoria? É apenas o substantivo que designa o saber muito? Saber muito acerca de quê?
Pratico um desporto solitário sempre que posso, e chama-se pensar. Pensar sobre quê? Sobre tudo, mais que não seja para manter o neurónio com um corpinho danone, já que sou incapaz de fazê-lo ao resto do corpo. Bom, mas resumindo. Numa dessas sessões de ginásio pensante, debrucei-me sobre a profundidade dessa frase do Zappa. E uma conclusão que cheguei (absolutamente passível de erro, como todas as conclusões), é que a sabedoria é muito mais do que um simples estado em que uma pessoa é detentora dum qualquer conhecimento. A sabedoria seria a maneira como esse conhecimento é aplicado e practicado, necessitando para o efeito de uma componente importantíssima, que nos dias que correm está em baixa vertiginosa: o senso comum. Pior ainda, o senso comum, apesar de ser algo tipicamente humano, escapa completamente à tendência também tipicamente humana de quantizar, medir e catalogar, o que representa um contra-senso. Qual a diferença então entre conhecimento e sabedoria? Um exemplo práctico: foi necessário uma quantidade absurda de conhecimento para fabricar a bomba atómica, nenhuma sabedoria para lançá-la sobre Hiroshima, e nenhuma explicação lógica, inteligente e minimamente plausível para lançá-la sobre Nagasaki.
Então a componente senso-comum é de vital importância para que a sabedoria funcione. Mas, e o que é o senso-comum? Um conjunto imaginário de regras? Um código de conduta? Um conjunto mais ou menos inconsciente de valores para determinar o que está bem ou o que está mal?
Bom de qualquer das maneiras, pode ser discutível, e até anedótico, inútil, ridículo e absurdo discutir a essência do senso-comum, quando o mesmo está em vias de extinção. E, ao abrigo da teoria acima descrita, com ele extinguir-se a sabedoria. Pelo menos a sabedoria segundo estes parâmetros. A sabedoria segundo a quantidade de coisas que um indivíduo sabe, essa segue, mas se esse mesmo indivíduo não sabe o que fazer com isso, de pouca utilidade tem. Em que é que ficamos?

P.S.- Aqui não se censura os comentários de ninguém, por mais absurdos que sejam.

segunda-feira, junho 20, 2005

O Grande Irmão

A memória, é realmente curta. Lá diz o velho ditado “Morreu o rei! Viva o rei!”. No dia de Stº António, desapareceu Àlvaro Cunhal, e dias antes Vasco Gonçalves. Pessoas de inquestionável relevância política, há precisamente 30 anos atrás. Do Vasco Gonçalves já quase ninguém se lembrava, do Àlvaro Cunhal a ideia do eterno líder do PCP. Quem é que se lembra da passagem fugaz, mas nem por isso inofensiva, destas duas personagens, pelo governo de Portugal, então uma recém-nascida democracia? Quem se lembra da maneira como chegaram ao dito governo? Quem se lembra do 11 de Março de 1975? Quem se lembra das nacionalizações à bruta? Quem se lembra dos saneamentos à bruta? Quem se lembra da caça às bruxas dos "inimigos do proletariado" (leia-se, toda a gente que não era militante do PCP)? Quem se lembra dos desastrosos processos de descolonização, entregando tendenciosamente o poder aos movimentos de libertação marxistas-leninistas, sem recurso a um periodo de transição, e a eleições livres? Quem se lembra que em consequência disso resultaram as guerras civis de Angola, Moçambique e Timor-Leste, esta última finalizando com a ocupação indonésia e com aquilo que já se sabe? Quem se lembra das centenas de milhares de portugueses que tiveram que fugir dessas ditas guerras civis, quase só com a roupa que levavam, e ao regressar a Portugal, ainda tiveram que aguentar a humilhante e vergonhosa alcunha de “retornados”? Quem se lembra de todos os mortos e feridos dessas guerras civis (maioritariamente mulheres e crianças)? Quem se lembra da ruinosa política económica que esse governo levou a cabo, deixando o país à beira da bancarrota? Quem se lembra de que esse governo quase nos levou à guerra civil? Alguém se lembra de alguma destas coisas, porventura, antes de fazerem os discursos de circunstância a exaltar o carácter e valor dos falecidos? Não nego, nem esqueço o papel primordial que o PCP desempenhou no tempo da ditadura, combatendo-a feroz e heroicamente, mas esse papel não lhe deu o direito de fazerem o que fizeram estas duas personagens durante o chamado "verão quente" de 1975. Mais duas personagens a quem não serão imputados crimes de lesa-pátria, nem crimes contra a humanidade.

sexta-feira, junho 10, 2005

ONG

O meu amigo Eugenio Arnao de Saragoça(cuja fronha já apareceu nesta página junto à minha, coitado), que trabalhou na América Central com as chamadas ong's, deu-me uma definição curiosa da mesma: "uma ong, são uns tipos que, quando estás numa ilha deserta morto de fome e de sede, te oferecem um telemóvel para pedir uma pizza e uma coca-cola". Claro que haverá excepções (como em todas as regras), mas tenho a mesma sensação. Que raios! Nunca mais se vai embora o "políticamente correcto", e as coisas voltam ao seu sítio! É que a burra anda à nora! O cowboy afinal não é tão bonzinho assim, o mau-da-fita também não é assim tão mau, e a rapariga tem tendências bissexuais.
A propósito, parece que aqui os bispos estão a organizar uma manifestação contra os casamentos homossexuais. É curioso como a igreja católica põe tanto empenho em impedir que duas pessoas se amem e sejam felizes, e tão pouco em impedir que as pessoas se odeiem e se matem!

Beijinhos ao sargento-ajudante

segunda-feira, junho 06, 2005

O Quarto Poder

Na sexta-feira passada tive uma experiência curiosa. Todas as manhãs me levanto relativamente cedo, por volta das 7 da manhã, para acordar o meu rebento, dar-lhe pequeno-almoço e mandá-lo para a escola. A minha cara-metade tem o mau vício de acender a televisão, assim que acorda. A coisa não é tão má assim, porque o canal escolhido é a TV3, a televisão da Catalunha, um canal generalista, falado em catalão. Desde que vim para cá, das primeiras vezes, a TV3 constituiu para mim, uma fonte de aprendizagem do catalão, mas também se tornou, uma referência a nível europeu do que é um canal de televisão generalista de qualidade. Não é que seja sumamente extraordinário, mas as alternativas são tão más, que a TV3 sobressai por manter os "mínimos olímpicos" de qualidade.
A essa hora dá um programa que ocupa toda a franja horária da manhã, chamado "Els Matins de TV3" (As manhãs da TV3), programa que algumas vezes sigo, pois é um espaço de tertúlia, e de entrevistas bastante interessante, onde se tratam com alguma seriedade, temas da actualidade, seja ela local, nacional, europeia, ou mundial. Em suma, um espaço televisivo, onde, pasme-se, impera um certo bom-senso. Durante a semana passada, falou-se bastante sobre a violência, e mais precisamente a violência dos jovens, por causa de 2 acontecimentos nefastos, em 2 pontos diferentes da Catalunha, que levaram à morte de 2 jovens por esfaqueamento. Normalmente nesse programa põe-se uma pergunta aos espectadores, que podem responder através de telefone, sms ou email. Utilizei este último meio para dar a minha opinião sobre o assunto. A pergunta era "os jovens de hoje estão mais violentos do que antes?". Acto seguido recebi uma resposta ao email, pedindo um contacto telefonico, que obviamente facilitei. No dia seguinte, recebi uma chamada da TV3 para convidarem-me a participar no debate que haveria na sexta-feira, sobre o assunto. E, claro que concordei em ir, porque acredito que a participação neste tipo de iniciativas, pode inclusivamente ser um acto mais político do que votar. Votar é uma decisão mais ou menos influenciada, assistir a um debate pode fazer as pessoas pensar (o que hoje em dia é um perigo).
O debate correu lindamente, mas mais pela qualidade dos intervenientes, do que propriamente pela acção moderadora da jornalista, a quem ninguém fez o mais mínimo caso. E porquê? Porque a dita jornalista e co-apresentadora do programa, estava mais interessada em criar uma peixeirada para ter um acontecimento espectacular no seu programa, do que propriamente tratar de um tema verdadeiramente importante. E o mau-gosto foi maior, quando para o referido debate convidaram o pai de um rapaz morto à saida do liceu, aqui há quase 2 anos. Acabaram por se dizer coisas muito importantes por parte de todos os intervenientes, cujo leque era tão diversificado como psicólogos, professores, jovens estudantes, mães, pais, especialistas em comportamento e representantes de associações de okupas (malta que ocupa edifícios abandonados). Para desespero da jornalista (que não parava de fazer sinais a animar-nos à discussão), estávamos de acordo em practicamente todos os pontos discutidos.
Bom, tudo isto serviu-me para reflectir sobre variadas coisas. Uma delas é eu sentir-me cada vez melhor numa sociedade activamente pensante, e constructivamente crítica. A outra é sobre o papel dos media. E aqui começo a corroborar a designação de 4º poder, no sentido de que, como qualquer outro poder institucional, desenvolve-se unidireccionalmente, sem direito a resposta, e sem responsabilidade ou responsabilização. Já não é suficiente informar, tem que se informar com espectáculo, ainda que se toque a irresponsabilidade e o mau-gosto. Neste preciso contexto, não se dão conta de quanto mais se fala dos bandos deliquentes, mais estes cobram força, e notariedade. À saída do debate, conversando com um dos intervenientes, professor catedrático, este disse-me que os grupos de skinheads mantém um ranking de importância derivado das vezes que são referidos nos media. Será que os media não aprenderam a lição do que se passou em Los Angeles no princípio dos 90? Concordo que a brutalidade policial sobre Rodney King, devia ser denunciada, mas os custos da emissão das imagens do espancamento foi aquilo que se viu. Alguém se lembra, também no princípio dos 90, da imprensa portuguesa (há falta de material noticioso) ter inventado um problema nacional racista, e com isso quase que tínhamos um problema sério que não tínhamos até então? Os jornalistas, igual que os políticos, já não têm nenhum sentido de responsabilidade? Ou a que têm é para com os seus superiores?
Ninguém entende que há coisas na sociedade, que pela sua essência não podem ser mercantilizadas, ou (mais politicamente correcto) rentabilizadas, sob pena de serem uma negação em si mesmo, e por outro lado, uma ameaça à mesma sociedade? O jornalismo e a cultura são duas delas. O jornalismo pelo que acabo de contar, e a cultura, porque sem ela não há identidade, e sem identidade, não há verdadeiramente sociedade, há um conjunto de pessoas que vivem juntas, pela força das circunstâncias.
Continuo a ver "Els Matins de TV3", mas agora um pouco mais desiludido.

terça-feira, maio 31, 2005

Defeito ou feitio?

“Veja-se nesta descrição a loucura com que se carregou o galeão Santiago, depois apresado pelos holandeses:
Trazia este galeão, só no porão, quatro mil quintais de pi­menta; e no corpo da nau e debaixo da ponte e em cima dela, na tolda, no chapitéu, sobre o batel, no sítio do cabrestante e no convés eram tantos os caixões de fazenda e fardos ao cava­lete, que não cabia uma pessoa nele. E até por fora do costado, pelas postiças e mesas de guarnição, vinham fardos, e camaro­tes formados, como todas estas naus costumam, de tal maneira que se não podiam nele marear as velas, e dezoito dias se não pôde andar com o cabrestante. E sobretudo se embarcaram ne­le perto de trezentas almas, entre nautas, oficiais e alguns sol­dados ordinários e escravos e como trinta pessoas fidalgas e nobres [...]■?
O que fez exclamar aos holandeses, depois de tomado o navio:
Dizei, gente portuguesa, que nação haverá no mundo tão bar­bara e cobiçosa que cometa passar o cabo de Boa Esperança na forma que todos passais, metidos no profundo mar com carga, pondo as vidas a tão provável risco de as perder, só por cobiça; e por isso não é maravilha que percais tantas naus e tantas vidas”
in História Trágico-Marítima de Bernardo Gomes de Brito
(relatos do sec. XVI, publicados no sec. XVIII)

“Estamos perdidos há muito tempo...O país perdeu a inteligência e a consciência moral.Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada.Os caracteres corrompidos.A prática da vida tem por única direcção a conveniência.Não há princípio que não seja desmentido.Não há instituição que não seja escarnecida.Ninguém se respeita.Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos.Ninguém crê na honestidade dos homens públicos.Alguns agiotas felizes exploram.A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia.O povo está na miséria.Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente.O Estado é considerado na sua ação fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo.A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências.Diz-se por toda a parte, o país está perdido!Algum opositor do atual governo? Não!” Eça de Queirós escreveu isto em 1871.


“...mas esse tempo que há-de vir não se espera como a noite espera o dia
nasce da força que transpira de braços e pernas em harmonia
já basta tanta desgraça que a gente tem no peito a cair
não é do povo nem da raça, mas do modo como vês o porvir
que atrás dos tempos vêm tempos e outros tempos hão-de vir”
Fausto Bordalo Dias, in Atrás dos Tempos


P.S.- O texto do Eça foi-me gentilmente enviado por email, pelo amigo Francisco Naia, a quem mando um abraço.

quinta-feira, maio 26, 2005

Ele há coisas...........

Ele há coisas do destino, que sempre nos surpreende. Contagiado pelo salutar vício deste pessoal de ler livros, tenho andado a ler e a reler os poucos livros que tenho cá em português (tenho que comprar mais quando volte a Lisboa). Uma das últimas vezes que estive em Lisboa, comprei alguns para ter cá. Um deles de poesia do António Gedeão, e outro de prosa do Al Berto. A compra deste último livro teve uma história de há cerca de 10 anos. Andava eu com o João Ferreira a tocar pelos bares um pouco por toda a geografia nacional, quando o acaso nos levou a um barzito em Sines, vila que só conhecia de passagem. Adorei o centro histórico, e também o ambiente familiar do bar. Acabei fazendo amizade com o dono, o Valentim, que ao mesmo tempo era dono de uma loja de fotografia. Nesse ambiente familiar, depois de termos tocado, ficámos até ao amanhecer a comer linguiça assada, cervejas, e muita e boa conversa, como só os alentejanos sabem proporcionar. E as anedotas, rápidas, de humor aguçado e inteligente, as melhores. Como dizia, nesse ambiente familiar conheci um homem, que pelo discurso era alguém com bastante cultura, mas ao mesmo tempo com bastante vida vivida. Foi delicioso estar toda a noite a dar à língua, falando de tudo um pouco, desde política, a filosofia, ao futebol. Nas vezes seguintes, quase sempre o mesmo programa.
Assim como por acaso fomos parar a Sines, também um dia, por acaso, deixei de ir a Sines, por uma temporada longa. E quando voltei, de imediato perguntei por aquela personagem: "então e o Alberto?", ao que me responderam, " ninguém te contou? O Alberto morreu aqui há uns meses!". Senti como se tudo aquilo que eu sorvi naquelas noites, se cristalizasse e partisse dentro de mim. Essa noite foi diferente, já não houve petiscada e cerveja e conversa pela noite fora, pois a tristeza tinha-me tirado a vontade.
Anos depois, nessa livraria onde comprei os livros, vejo um livro com a fotografia desse meu amigo, e cheguei à conclusão de que o Alberto que eu conheci, era o Al Berto. Já tinha ouvido falar dele como escritor e poeta, mas nunca o suficiente para levar-me a interessar pelo seu trabalho. Armado de um estúpido sentimento de culpa, comprei o livro, e até agora já o li e reli umas 5 vezes. Não sei se é autobiográfico, ou se é uma biografia de uma vida que ele gostaria de ter vivido, e nem sequer estou preocupado com isso. Fala de gente livre, de gente que vive voluntáriamente fora do mundo, ou que encontrou o seu conforto (ainda que momentâneo) nesse lugar que é a noite. A noite, da qual eu fui habitante há muitos anos, e onde conheci muitas personagens iguais à deste livro. O livro chama-se "Lunário", e eu tenho saudades daquelas poucas, mas fantásticas conversas com o Alberto, até ao amanhecer. Também tenho saudades de tocar com o João Ferreira, que de o ver tocar comigo, me ensinou muito mais do que ele pensa.

segunda-feira, maio 23, 2005

Preguiça

Plena primavera. A minha 40ª primavera tem um sabor especial. Voltam as bermudas, as t-shirts e os chinelos-de-enfiar-o-dedo (conhecidos no Brasil pelo nome mais curto de "sandálias havaianas"). A temperatura que se mantém teimosamente acima dos 20º. Ontem, primeiro dia de praia do ano, com o meu pimpolho. Barceloneta estava quase cheia, o sol ameno, mas aconchegante, a salmora que se agarra à pele. Muito rabo, muito peito ao léu, que alegria para a vista! O passeio de ida e volta em bicicleta. Paragem no Passeio do Born, por insistência do Sérgio, para comer uma pizza nos argentinos (a melhor da cidade), coroada com um belo gelado italiano. Finalmente chega a época de sair da minha gruta de hibernação, e recomeçar a viver. É que, ainda que eu me quisesse esquecer, o meu corpo, desde sempre, me lembra que sou um animal, e mamífero, por sinal. E os mamíferos hibernam! Passei todo o inverno numa semi-existência, como se o mundo que me rodeia fosse um filme com qual eu não tenho nada a ver.
Voltando à praia, não me lembro há quanto tempo estava tanto tempo disfrutando de não fazer rigorosamente nada. Parece que para algumas pessoas é extremamente difícil não fazer nada. Para mim, sempre foi muito fácil, neste caso, foi só entregar o meu corpo à areia, e deixar o sol servir de cobertor, ao som das ondas. Bom, ao som das ondas e dos pregões dos paquistaneses que vendiam "cervesa, beer, fanta, coca-cola", e de umas chinesas que passavam oferecendo os seus serviços de massagistas. Por acaso não ia nada mal, uma massagem, mas tinha que me virar de costas, e não estava para isso, fica para a próxima. De repente veio-me à memória os pregões da praia de quando eu era pequeno: a língua da sogra, o olá fresquinho (frutóxculate), há bolinhos. Continuei de olhos fechados, a ouvir os diversos sons que vinham de redor, embalando-me para um estado de semi-sonolência, a que o calor do sol não era alheio. Que gostinho! Nem com uma grua me arrancavam dali!

quinta-feira, maio 12, 2005

1º de Mãe?

Há cerca de 500 anos atrás, um rapaz lá das bandas do que hoje se conhece por Itália, escreveu um livro no qual fazia uma análise dos meandros do poder lá do seu sítio. Há muitos anos encontrei esse livro perdido lá por casa dos meus pais, e resolvi dar-lhe uma vista de olhos, e imediatamente passou a ser meu fiel companheiro das idas à casa-de-banho. Não pelo conteúdo do livro, obviamente, mas por ser o espaço de tempo de serenidade, solidão e concentração que tinha para lhe dedicar, embora o livro merecesse uma abordagem bastante mais dignificante. Mas como dizem por estas bandas, "es lo que hay!"
Uma das frases do livro (entre outras) que me ficou gravada foi "o poder protege-se a si próprio". E não é que o rapaz tinha razão! Tenho reparado que depois de anos de suposta luta política entre as mais variadas facções e ideologias, tudo se começou a amenizar, e lentamente se começou a instalar o morninho "politicamente correcto". E eis que hoje em dia, quase sem nos darmos conta, vivemos em plena era do "politicamente correcto", algo que desde já há uns 10 anos me vem dando uma repulsa subcutânea, nauseas, vómitos, e outros desconfortos que tais. Todos os políticos são bonzinhos, honrados, abnegados, bem-educados, correctos, e sobretudo, politicamente correctos. Quase que me dá saudade do Almirante Pinheiro de Azevedo, que nos deixou de legado frases tão díspares como "o povo é sereno!" e "ó minha senhora, vá à merda!", este último piropo dedicado a uma pobre jornalista que lhe fez uma pergunta incómoda. Mas pelo menos, o rapaz não tinha papas na língua, e chamava os bois pelos nomes.
Hoje em dia, há muitas coisas que já não são politicamente correctas, e uma delas são as manifestações "esquerdalhas", principalmente aquelas que incomodamente têm agenda marcada, como a semana santa esquerdista que vai do 25 de Abril ao 1º de Maio. Num afã para se proteger a si mesmo, o poder nunca olha a meios para atingir os seus fins, e passados os tempos das imposições (não é politicamente correcto), estamos nos tempos das diversões. Diversões não no sentido de divertir o pessoal, mas sim de distrair. Distrair o pessoal para coisas que não têm nada a ver com o essencial, mas que enchem o olho.
E então chega-se ao cúmulo de transferir o dia da Mãe, para o primeiro de Maio. Dia da Mãe no 1º de Maio? Dia da Mãe no 1º de Maio? Mas que disparate é este? Obviamente que o resultado está à vista: mãe há só uma, 1º de Maio também, mas como mãe é mãe, que se lixe o 1º de Maio. E assim se vai apagando a memória colectiva de coisas que o povo devia lembrar sempre. Embora duvide que a grande maioria das pessoas saiba o quê e porquê se celebra o 1º de Maio. Muitas delas devem pensar que é uma grande festa que sempre se fez na Rússia, e que nasceu no tempo da União Soviética.
Vem-me também à memória, que no 25 de Abril do ano passado, rectificaram a palavra revolução para evolução. Mas que palhaçada vem a ser esta? Eu sei que muita da culpa têm alguns partidos de esquerda por se terem assenhorado destas duas efemérides, mas o facto é que anda a tentar branquear a memória de um património humano, que pertence a todos nós. E um povo sem memória, é um povo sem história, sem referências, sem identidade. É nisso que nos estamos a tornar? Em meros consumidores, sem passado, nem futuro, que existem apenas?
Bem, resta-me elucidar o paciente leitor destas linhas, que o rapaz italiano chamava-se Nicolau Maquiavel, e que o seu nome é mais conhecido pelo pejorativo (desta vez acertei, Isabel) adjectivo maquiavélico , e o livro em causa chama-se O Príncipe (não confundir com o Principezinho de Saint-Exupery). Resta-me também desaconselhar a leitura na cagadeira, porque o hemorroidal ressente-se.
Beijos a quem de beijos, abraços a quem de abraços

terça-feira, maio 10, 2005


Semelhanças Posted by Hello

Anjo da Guarda

Depois de tanto tempo a correr de um lado para o outro, parece que agora quero pôr a escrita em dia.
Por vezes há situações em que tenho que agradecer eternamente ao meu anjinho da guarda por me ter salvo de determinada situação. E a última passou-se durante o mês passado, quando uns 2 dias antes de que João Paulo II esticasse o pernil, acendo a televisão a meio de uma das minhas insonias, e esta deu um peido e morreu. A sorte foi dupla, pois a garantia expirava no final do mês. Assim, depois de algumas semanas de tv no estaleiro, volto a ligar, e no Vaticano já há outro papa. Resta dizer que durante essas semanas ouviu-se muito mais música em casa, e conversou-se muito mais, e na rua ia vendo o pessoal rosnando porque não conseguiam ver mais nada na televisão, senão o funeral do papa, e a eleição do novo.
A propósito de assuntos papais, o meu amigo Zé Neto já me tinha advertido acerca deste Ratzinger. E realmente ter como papa, aquele que anteriormente foi o chefe do Santo Ofício, não dá lá muito boa onda. Mais a mais, o homem é suspeitamente parecido com mestre Sith (mestre de Darth Vader) da Guerra das Estrelas. Má onda, má onda! Parecenças por parecenças, prefiro o Jordi Pujol (ex-presidente da Generalitat da Catalunha) que é a cara chapada do mestre Yoda! Tem o grave defeito de ser de direita, mas pelo menos é catalanista!

segunda-feira, maio 09, 2005

25 de Abril Póstumo

Passou-se o 25 de Abril, e passou-se o 1º de Maio, e eu nem me dei conta. Lembro-me do 25 de Abril de 1974, e do 1º de Maio desse ano. Lembro-me da esperança, da felicidade, da alegria de todo um povo que alcançou a liberdade. Lembro-me da liberdade andar na boca de toda a gente, mas de ninguém explicar exactamente o que isso era, realmente. A definição mais corrente era " a liberdade, é eu fazer aquilo que me apetecer!". Lembro-me de todas as promessas, das promessas de que doravante tudo seria diferente. De um futuro sorridente para as crianças, que seriam os homens de amanhã. Eu era uma dessas crianças, e tenho a grande satisfação do 25 de Abril me ter permitido falar aquilo que me apetece..............................falar para as paredes...............................num país estrangeiro!

Sem Palavras Posted by Hello

Eu e Eugénio Posted by Hello

Teatro Principal de Saragoça Posted by Hello

Zaragoza

Na passada terça-feira, a tournée dos Elefantes levou-me a Saragoça, cidade pela qual já tinha passado ao largo diversas vezes, mas nunca tinha tido tempo nem calma necessários para entrar. Fiquei maravilhado com o ambiente da cidade. Por curiosidade tinha levado comigo o contacto de Eugenio Arnao, o percussionista do grupo de música tradicional aragonesa "La Orquestina del Fabirol", os quais tinha conhecido na mágica ilha de Stª Maria, nos Açores, aquando dó Festival Maré d'Agosto em 1997. Na altura eu ia com o grupo "Lindu Mona". Liguei por descargo de consciência, e para meu espanto, o rapaz ainda se lembrava de mim. Convidei-o para assistir ao concerto dessa noite, e como repetiríamos no dia seguinte, combinámos almoço. Passei um dia magnífico, conhecendo a cidade pela mão de um conhecedor, que além do mais, revelou-se um desses seres humanos que é necessário ter por companhia uma vez por outra, para descermos à terra. Eugenio tem luz própria e uma vida, vida. Daquelas vidas, que por mais fascinante que pensemos que a nossa é, fica muito fosca ao lado da dele. Prometi a mim mesmo voltar.

O teatro onde tocámos era fantástico, e esteve a abarrotar as duas noites. E o público aragonês super-carinhoso. Prometi a mim mesmo, voltar.

domingo, maio 01, 2005

De novo na estrada

Quando há dois anos e meio vim para Barcelona, disse para comigo mesmo que gostaria de passar uns 2 anos sem ir para estrada. Que gostaria de estar, pelo menos 2 anos no mesmo sítio. Isto porque as anteriores experiências com a Ala dos Namorados e Portugal a Cantar, me fizeram estar um pouco cansado de estar permanentemente em viagem. Atenção, foram experiências muito recompensadoras, e guardo gratas memórias de ambos os projectos!
Assim parece que o meu anjinho da guarda, ouvi e anuiu ao meu pedido, e passei tranquilamente estes últimos dois anos, com uma que outra saída a Andorra, ou França, mas em geral, sempre me fiquei trabalhando aqui na cidade, ou nos arredores.
Pois, parece que esse periodo acabou, e mais uma vez volto à estrada, desta vez como músico convidado do grupo pop "Los Elefantes" (www.elefantes.net). Os primeiros concertos em Valencia, Madrid e Barcelona, foram muito bem. Na próxima semana será Saragoça, 2 dias no teatro principal.
O ambiente de trabalho é extraordinário. Normalmente quando se levam uns quantos anos trabalhando juntos, o ambiente tende-se a adensar, e a confiança tende a ser abusiva (pelo menos era ao que eu estava habituado). Mas aqui parece que não, há bastante sentido de humor, mas também muito carinho uns pelos outros, e sempre há uma palavra gentil e de ânimo de alguém para alguém. E penso que isso é um dos ingredientes-chave para o êxito deste grupo. Toda essa cordialidade que se vive dentro do grupo, transpira para o público, na hora de gravar um disco, ou de fazer um concerto. O público agradece e retribui. Sempre me pareceu a maneira mais natural e inteligente de estar nesta profissão.


Esta semana tive um convite para algo que há muito tempo tinha muita vontade de fazer: uma banda sonora para um filme! Bem, será uma curta-metragem de 7 minutos, mas já é alguma coisa. Ainda consegui "impingir" o Sérgio como actor, pois precisavam de crianças, e ele há já algum tempo que diz que gostaria de ser actor. Pois agora terá opurtunidade de saber na pele o que custa o trabalho de actor. A rodagem será no dia 14 de Maio. O trabalho é para a Universidade de Barcelona, e fará parte de uma mosra de curtas-metragens, durante o mês de Junho.

Ainda o Respeitinho

Ainda acerca do tema do respeito, há ainda as pessoas que confundem respeitar com submissão, ou subserviência. Vem-me à lembrança as minhas primeiras aulas de judo, onde me ensinaram que na vénia de saudação ao adversário, nunca se baixa a cabeça. Sempre se fita os olhos do adversário. É uma saudação e não uma submissão, portanto baixar a cabeça seria sinal de submissão.

segunda-feira, abril 04, 2005

Safar

Existe um verbo português que me parece fazer parte do imaginário colectivo português, e mais do que isso, parte da genética portuguesa. Senhoras e senhores, eis o verbo SAFAR. A maior parte dos portugueses não vive, vai-se safando. Há malta (como eu) que se safou à tropa. Uma pessoa que teve sorte na vida, safou-se. Pelo que me apercebi, a maioria dos portugueses acha que a fuga de Durão Barroso para Bruxelas não foi um crime de lesa-pátria, mas uma coisa muito natural pois afinal, como toda a gente, o rapaz anda-se a safar. Várias pessoas já me têm dito, que eu é que fui esperto, pois safei-me bem ao vir para Barcelona. Sempre ouvi dizer que os portugueses safam-se em qualquer parte do mundo. Também se diz que com um curso universitário um gajo safa-se melhor. Nunca ninguém me explicou bem o verdadeiro e amplo significado deste verbo, mas associo-o à acção de escapar ileso de alguma situação desagradável, e quase inevitável, e além de ileso, escapar sem grande esforço, ou por um golpe de sorte. O que não faz grande sentido para mim é quando um povo prefira ir-se safando a viver. Não só pela consequência gramatical do particípio passado do verbo, que convertido em adjectivo, dá o desagradável e prejorativo resultado de safado, mas principalmente pelo o que isso significa moral e psicologicamente. Ou seja, uma pessoa não trabalha para materializar os seus ideais, e consegue-o..............isso não! É mais simples dizer que se safou. Quer isso dizer que somos um povo de safados? Em vez de se construir um país como manda a sapatilha, vamos safando a coisa? A malta só não se safa aos impostos se não puder? Porquê? Porque temos um estado que se vai safando à conta dos muitos que não podem, ou não querem safar-se porque preferem viver? E com isso safa os seus protegidos? Cada um safa-se como pode, como se vivessemos à séculos num barco a afundar lentamente. E em vez de se aproveitar toda a energia criadora e empreendedora para safar esse barco, prefere-se passar sem ela, “para não criar muitas ondas”, pois a coisa já está suficientemente má.
Cabe-me elucidar a toda a gente que lhe interesse que a única coisa da qual me safei (e não é pouca coisa) foi da luta diária pelo respeito que me é devido apenas por ser pessoa. Parece que o português se sente melhor consigo mesmo quando humilha os outros. De resto, tive que recomeçar a minha vida do zero, numa idade em que a maior parte das pessoas está mais ou menos instalada (ou entalada) na vida. E não me vou safando. Vou fazendo algo que instintivamente sempre soube que seria assim.....viver. E viver implica construir coisas, não safá-las. Provavelmente houve outra coisa de que me safei: do “safe-se quem puder!”

Beijinhos a todos

segunda-feira, março 14, 2005

Respeitinho é muito bonito

A distância também tem as suas vantagens. Inevitávelmente ao viver noutro país têm-se uma tendência infantil para as comparações, quando nada é comparável com nada. Faz parte desse exercício ao qual nos habituamos desde pequenos, a procurar referências que nos dêem um ponto de apoio seguro. Uma vez mais, a eterna busca da segurança.
Como a grande maioria (senão totalidade) dos portugueses, sofro essa quase mítica relação amor-ódio com o país. Cada um relaciona-se com isso como pode. Uns através da eterna queixa, outros através da rebeldia, outros através do comodismo, e outros através das mais coloridas e bizarras maneiras possíveis (afinal somos ou éramos um povo criativo). Ouvi ou li não sei onde que uma pessoa faz-se velha não pela idade, mas porque pára de perguntar porquê. E eu tento sempre exercitar essa questão que nos domina desde a infância. E a minha maneira de me relacionar com esse amor-ódio é exactamente perguntar-me “porquê?”.
Ao dar aulas de português fui dando-me conta de uma série de coisas interessantes, afinal a maneira como um povo se expressa através do seu idioma diz bastante acerca da psicologia colectiva desse mesmo povo.
Bom, juntando as comparações com o amor-ódio e as aulas de português, surgiu-me uma questão à qual tentei dar resposta: Porque é que em Portugal há um crescendo da utilização do “você”, e em Espanha essa tendência é quase porporcionalmente inversa? Podia justificá-lo com a opressão dos anos de ditadura, mas seria inválido, pois a Espanha também passou por isso. A única coisa que me ocorreu foi a questão do respeito. E pensando bem sobre o assunto, hoje em dia dá-me a sensação que temos uma relação um pouco errónea com o respeito. Por exemplo, somos capazes de aceitar e admitir (embora impotentes) que a administração do país pague tarde e a más-horas (o que é uma tremenda falta de respeito), quando exige exactamente o contrário de todos (ou quase todos) os cidadãos, apenas pelo facto de sermos tratados com algumas honrarias verbais. Ou seja, o ser tratado por Exmo Senhor, suaviza o facto de sermos desrespeitados. Por outro lado, se alguém desconhecido nos trata por tú, sentimo-nos indignados pela desfaçatez, e a pergunta que nos assoma de imediato é: “este conhece-me de algum lado, para tratar-me por tú?”. Ainda que essa pessoa tenha na realidade a melhor das intenções, e que o facto de “tutear” demonstre afecto pela intimidade e pelo respeito, essa pessoa já está, à partida, estigmatizada pela alegada falta de respeito inicial de tratar-nos por tu. O “você” marca uma suposta distância de segurança em relação ao interlocutor. O que para mim é verdadeiramente incompreensível é marcar essa distância com os próprios filhos, por mais moda que seja.
Um outro exemplo, é como ao longo dos tempos o discurso dos políticos foi substituindo a palavra “povo”, pela palavra “cidadãos”. Claro, porque “povo” já soa um pouco a revolucionário rasca, e já fora de moda, mas “cidadãos” é muito mais moderno, europeu, e sobretudo, respeituoso. E um português sente-se bem ao ser referido como um cidadão, sobretudo quando acompanhado de “de pleno direito”. Ainda que na realidade se tenha um “pleno dever”, e sejam postas sucessivas e graduais barreiras ao “pleno direito”, a maneira como se fala de nós (povo ou cidadão) influencia substancialmente na hora de escolher os governantes. Inevitavelmente esses governantes caem na falta de respeito aos seus votantes, e aos outros também, mas tudo se limpa com um honrado e sempre conveniente pedido de demissão, como se com isso se sanasse todo o mal causado pela incompetência ou negligência desses governantes. Na verdade, errar é humano, mas 30 anos de sucessivos erros governamentais, começa a ser desumano.
Aqui há um ditado que diz que o movimento se demonstra andando. E talvez no dia em que os portugueses comecem a dar menos importância ao suposto respeito verbal, e comecem a dar mais importância ao respeito demonstrado pelas acções, talvez se esteja no bom caminho para exigir uma classe política em condições, de pessoas verdadeiramente abnegada, com vontade de servir o país, mais do que a eles próprios. Pode ser muito dramático da minha parte, mas ultimamente tenho assistido a tantos crimes de lesa-pátria, por parte da classe política, que mais do que responsabilidades políticas, exigiria responsabilidades criminais. Ou o pessoal vai aturar para sempre o “quando o mar bate na rocha, quem se lixa é o mexilhão”?