quinta-feira, maio 12, 2005

1º de Mãe?

Há cerca de 500 anos atrás, um rapaz lá das bandas do que hoje se conhece por Itália, escreveu um livro no qual fazia uma análise dos meandros do poder lá do seu sítio. Há muitos anos encontrei esse livro perdido lá por casa dos meus pais, e resolvi dar-lhe uma vista de olhos, e imediatamente passou a ser meu fiel companheiro das idas à casa-de-banho. Não pelo conteúdo do livro, obviamente, mas por ser o espaço de tempo de serenidade, solidão e concentração que tinha para lhe dedicar, embora o livro merecesse uma abordagem bastante mais dignificante. Mas como dizem por estas bandas, "es lo que hay!"
Uma das frases do livro (entre outras) que me ficou gravada foi "o poder protege-se a si próprio". E não é que o rapaz tinha razão! Tenho reparado que depois de anos de suposta luta política entre as mais variadas facções e ideologias, tudo se começou a amenizar, e lentamente se começou a instalar o morninho "politicamente correcto". E eis que hoje em dia, quase sem nos darmos conta, vivemos em plena era do "politicamente correcto", algo que desde já há uns 10 anos me vem dando uma repulsa subcutânea, nauseas, vómitos, e outros desconfortos que tais. Todos os políticos são bonzinhos, honrados, abnegados, bem-educados, correctos, e sobretudo, politicamente correctos. Quase que me dá saudade do Almirante Pinheiro de Azevedo, que nos deixou de legado frases tão díspares como "o povo é sereno!" e "ó minha senhora, vá à merda!", este último piropo dedicado a uma pobre jornalista que lhe fez uma pergunta incómoda. Mas pelo menos, o rapaz não tinha papas na língua, e chamava os bois pelos nomes.
Hoje em dia, há muitas coisas que já não são politicamente correctas, e uma delas são as manifestações "esquerdalhas", principalmente aquelas que incomodamente têm agenda marcada, como a semana santa esquerdista que vai do 25 de Abril ao 1º de Maio. Num afã para se proteger a si mesmo, o poder nunca olha a meios para atingir os seus fins, e passados os tempos das imposições (não é politicamente correcto), estamos nos tempos das diversões. Diversões não no sentido de divertir o pessoal, mas sim de distrair. Distrair o pessoal para coisas que não têm nada a ver com o essencial, mas que enchem o olho.
E então chega-se ao cúmulo de transferir o dia da Mãe, para o primeiro de Maio. Dia da Mãe no 1º de Maio? Dia da Mãe no 1º de Maio? Mas que disparate é este? Obviamente que o resultado está à vista: mãe há só uma, 1º de Maio também, mas como mãe é mãe, que se lixe o 1º de Maio. E assim se vai apagando a memória colectiva de coisas que o povo devia lembrar sempre. Embora duvide que a grande maioria das pessoas saiba o quê e porquê se celebra o 1º de Maio. Muitas delas devem pensar que é uma grande festa que sempre se fez na Rússia, e que nasceu no tempo da União Soviética.
Vem-me também à memória, que no 25 de Abril do ano passado, rectificaram a palavra revolução para evolução. Mas que palhaçada vem a ser esta? Eu sei que muita da culpa têm alguns partidos de esquerda por se terem assenhorado destas duas efemérides, mas o facto é que anda a tentar branquear a memória de um património humano, que pertence a todos nós. E um povo sem memória, é um povo sem história, sem referências, sem identidade. É nisso que nos estamos a tornar? Em meros consumidores, sem passado, nem futuro, que existem apenas?
Bem, resta-me elucidar o paciente leitor destas linhas, que o rapaz italiano chamava-se Nicolau Maquiavel, e que o seu nome é mais conhecido pelo pejorativo (desta vez acertei, Isabel) adjectivo maquiavélico , e o livro em causa chama-se O Príncipe (não confundir com o Principezinho de Saint-Exupery). Resta-me também desaconselhar a leitura na cagadeira, porque o hemorroidal ressente-se.
Beijos a quem de beijos, abraços a quem de abraços

Sem comentários: