quinta-feira, julho 14, 2005

A pensar na morte da bezerra strikes again

Os comentários (sempre benvindos, e agradecidos) acerca da “posta” lançada 3 postas abaixo, junto com a releitura da mesma, fez-me ainda debruçar mais sobre o assunto, a níveis de quase insanidade. E como estas coisas são demasiado grandes para uma pessoa aguentá-las sozinha, aguentem lá vocês também.
Partindo do princípio em que a sabedoria é conhecimento posto em práctica através do senso-comum, decidi tentar analisar e concretizar o mais objectivamente e pragmaticamente possível esta etérea substância da psicologia social. Vamos supôr que o senso-comum é um conjunto ético-moral de regras adquiridas tanto pela aprendizagem veiculada pela família, como pelas nossas experiências sociais ao longo dos anos. E como tal, o senso-comum torna-se também numa entidade reguladora do nosso comportamento. Torna-se a nossa consciência, o nosso "grilinho falante", aquilo que nos diz "o que está bem, e o que está mal". E aqui é que "a porca torce o rabo"! Chegado aqui, encontrei-me com várias e importantes questões, que passo a enumerar, por ordem desordenada:
– O senso-comum pode ou não ser isolado das nossas fobias e paranoias, que também condicionam o nosso comportamento?
- Utilizamos o senso-comum por conveniência? Para sentirmo-nos melhor connosco próprios? Para nos sentirmos melhores com os outros? Quando não estamos distraídos?
Sendo um mecanismo que nos diz “o que está bem, e o que está mal”, qual é a medida de cada um para isso? Ou há uma medida global?
Até que ponto é que “o que está bem” está mesmo bem, ou é um situação que nos faz sentir satisfatoriamente seguros? E até que ponto “o que está mal” é exactamente o contrário?

Levando em consideração a última questão, devo ter em conta que para que nos sintamos satisfatoriamente seguros, teríamos uma lógica e coerente tendência para fazer o bem, e com isso além de nos proporcionarmos bem-estar, consequentemente o proporcionaríamos aos outros. E com isso, se desencadearia uma reacção em cadeia de bem.estar geral. Então o que é que falha? Se organicamente temos tendência para o bem, porque é que o mal ganha cada vez mais terreno? Será porque cada um tem a sua concepção do bem, e só essa é válida, e não temos em consideração as concepções benfazejas dos outros?
Li uma vez nalgum sítio "se queres mudar o mundo, muda-te primeiro a ti próprio, e o mundo mudará". A princípio não entendi muito bem o sentido da frase, mas com o passar do tempo entendi uma série de coisas relacionadas com o assunto. Entendi que sempre buscamos factores externos para os nossos males internos, como quem procura colírio para uma unha encravada. Sentimo-nos bem em fazer alguma coisa para resolver o problema, ainda que essa coisa seja absurda e inútil. Porque fazer alguma coisa que possa desiquilibrar a delicada arquitectura psicológica que nos levou tantos anos a construir, é algo impensável e de consequências imprevisíveis. Além de que delegamos nos outros a responsabilidade, que não assumimos nós próprios, de ser felizes.
Então, se a nossa concepção do bem é passível de erro, se a maneira como a aplicamos, idem, essa pode ser uma das razões para a falência do senso-comum? E como consequência, a ausência de sabedoria? E isto sem analisar a nossa concepção do mal, e como o evitamos.
Tenho os neurónios à bofetada uns com os outros. Acho que vou para a praia pedir conselho aos peixes, pode ser que tenham aprendido algo com o Stº António.

2 comentários:

Cravo a Canela disse...

Só mais uma acha para a fogueira: acho que nós gostamos fazer o bem desde que ele não interfira nos nossos interesses. E é aqui que entra um outro valor chamado "coerência" e que deveria ser o regulador da nossa acção. Ou seja, se nós fossemos coerentes faríamos aos outros o que gostaríamos que os outros nos fizessem. E repara que ao fazê-lo não estamos a ser altruístas nem bons samaritanos apenas estamos a "pagar na mesma moeda". Mas nem isso conseguimos fazer. É a velha máxima "faz o que eu digo não faças o que eu faço". Até a nossa análise sobre determinado acontecimento tem sempre um condicionamento a priori, fui eu que o fiz ou foi o vizinho? Se o sujeito activo somos nós próprios o rol de condicionalismos, atenuantes e justificações é practicamente infinito. Agora se tal coisa foi feita por outro, aí o nosso veredicto automático é culpado. E claro que no lugar dele nunca teríamos cometido o mesmo erro. É incrível como passados mais de dois mil anos continuamos a apedrejar todas as putas que nos rodeiam!

Rogério Charraz

A Burra Nas Couves disse...

Pois é, Rogerito, pois é. Maus vícios dificéis de apagar. Talvez por uma questão instintiva de sobrevivência