segunda-feira, dezembro 31, 2007
A Última do Ano
John Lennon
Um bom ano para todos
terça-feira, dezembro 11, 2007
Ana Benavente interrompeu o silêncio e ( já agora ... )talvez valha a pena ler
Não sou certamente a única socialista descontente com os tempos que vivemos e com o actual governo. Não pertenço a qualquer estrutura nacional e na secção em que estou inscrita, não reconheço competência à sua presidência para aí debater, discutir, reflectir, apresentar propostas. Seria um mero ritual. Em política não há divórcios. Há afastamentos. Não me revejo neste partido calado e reverente que não tem, segundo os jornais, uma única pergunta a fazer ao secretário-geral na última comissão política. Uma parte dos seus actuais dirigentes são tão socialistas como qualquer neoliberal; outra parte, outrora ocupada com o debate político e com a acção, ficou esmagada por mais de um milhão de votos nas últimas presidenciais e, sem saber que fazer com tal abundância, continuou na sua individualidade privilegiada. Outra parte, enfim, recebendo mais ou menos migalhas de poder, sente que ganhou uma maioria absoluta e considera, portanto, que só tem que ouvir os cidadãos (perdão, os eleitores ou os consumidores, como queiram) no final do mandato.
Umas raríssimas vozes (raras, mesmo) vão ensaiando críticas ocasionais. Para resolver o défice das contas públicas teria sido necessário adoptar as políticas económicas e sociais e a atitude governativa fechada e arrogante que temos vivido?
Teria sido necessário pôr os professores de joelhos num pelourinho? Impor um estatuto baseado apenas nos últimos sete anos de carreira? Foi o que aconteceu com os "titulares" e "não titulares", uma nova casta que ainda não tinha sido inventada até hoje. E premiar "o melhor" professor ou professora? Não é verdade que "ninguém é professor sozinho" e que são
necessárias equipas de docentes coesas e competentes, com metas claras, com estratégias bem definidas para alcançar o sucesso (a saber, a aprendizagem efectiva dos alunos)?
Teria sido necessário aumentar as diferenças entre ricos e pobres? Criar mais desemprego? Enviar a GNR contra grevistas no seu direito constitucional? Penalizar as pequenas reformas com impostos? Criar tanto desacerto na justiça? Confirmar aqueles velhos mitos de que "quem paga é sempre o mais pequeno"? Continuar a ser preciso "apanhar" uma consulta e, não, marcar" uma consulta? Ouvir o senhor ministro das Finanças (os exemplos são tantos que é difícil escolher um, de um homem reservado, aliás) afirmar que "nós não entramos nesses jogos", sendo os tais "jogos" as negociações salariais e de condições de trabalho entre Governo e sindicatos. Um "jogo"? Pensava eu que era um mecanismo de regulação que fazia parte dos regimes democráticos.
Na sua presidência europeia (são seis meses, não se esqueça), o senhor primeiro-ministro mostra-se eufórico e diz que somos um país feliz. Será? Será que vivemos a Europa como um assunto para especialistas europeus ou como uma questão que nos diz respeito a todos? Que sabemos nós desta presidência? Que se fazem muitas reuniões, conferências e declarações,
cujos vagos conteúdos escapam ao comum dos mortais. O que é afinal o Tratado de Lisboa? Como se estrutura o poder na Europa? Quais os centros de decisão? Que novas cidadanias? Porque nos continuamos a afastar dos recém-chegados e dos antigos membros da Europa? Porque ocupamos sempre (nas estatísticas de salários, de poder de compra, na qualidade das prestações dos serviços públicos, no pessimismo quanto ao futuro, etc., etc.) os piores lugares? Porque temos tantos milhares de portugueses a viver no limiar da pobreza? Que bom seria se o senhor primeiro-ministro pudesse explicar, com palavras simples, a importância do Tratado de Lisboa para o bem-estar individual e colectivo dos cidadãos portugueses, económica, social e civicamente.
Quando os debates da Assembleia da República são traduzidos em termos futebolísticos, fico muito preocupada. A propósito do Orçamento do Estado para 2008, ouviu-se: "Quem ganha? Quem perde? Que espectáculo!" "No primeiro debate perdi", dizia o actual líder do grupo parlamentar do PSD, "mas no segundo ganhei" (mais ou menos assim). "Devolvam os
bilhetes...", acrescentava outro líder, este de esquerda.
E o país, onde fica? Que informação asseguram os deputados aos seus eleitores? De todos os partidos, aliás. Obrigada à TV Parlamento; só é pena ser tão maçadora.
Órgão cujo presidente é eleito na Assembleia, o Conselho Nacional de Educação festeja 20 anos de existência. Criado como um órgão de participação crítica quanto às políticas educativas, os seus pareceres têm-se tornado cada vez mais raros. Para mim, que trabalho em educação, parece-me cada vez mais o palácio da bela adormecida (a bela é a participação democrática, claro). E que dizer do orçamento para a cultura, que se torna ainda menos
relevante? É assim que se investe "nas pessoas" ou o PS já não considera que "as pessoas estão primeiro"?
Sinto-me num país tristonho e cabisbaixo, com o PS a substituir as políticas eventuais do PSD (que não sabe, por isso, para que lado se virar). Quanto mais circo, menos pão. Diante dos espectáculos oficiais bem orquestrados que a TV mostra, dos anúncios de um bem-estar sem fim que um dia virá (quanto sebastianismo!), apetece-me muitas vezes dizer: "Aqui há
palhaços." E os palhaços somos nós. As únicas críticas sistemáticas às agressões quotidianas à liberdade de expressão são as do Gato Fedorento.
Já agora, ficava tão bem a um governo do PS acabar com os abusos da EDP, empresa pública, que manda o "homem do alicate" cortar a luz se o cidadão se atrasa uns dias no seu pagamento, consumidor regular e cumpridor... Quando há avarias, nós cortamos-lhes o quê?? Somos cidadãos castigados! O país cansa!
Os partidos são necessários à democracia mas temos que ser mais exigentes. Movimentos cívicos... procuram-se (já há alguns, são precisos mais). As anedotas e brincadeiras com o "olhe que agora é perigoso criticar o primeiro-ministro" não me fazem rir. Pela liberdade muitos deram a vida. Pela liberdade muitos demos o nosso trabalho, a nossa vontade, o nosso
entusiasmo. Com certeza somos muitos os que não gostamos de brincar com coisas tão sérias, sobretudo com um governo do Partido Socialista!
Ana Benavente
Professora universitária, militante do PS
In: Jornal "Público" 2/12/07
domingo, novembro 11, 2007
Descansem em Música

Quando menos esperamos, a vida presenteia-nos com inesperadíssimas surpresas, e foi o que me aconteceu, quando em 1995, o Luís Hilário do Hot Club de Portugal me telefonou a perguntar se eu estaria disponível para um seminário/concerto, integrado no festival Jazz em Agosto, na Fundação Gulbenkian. Estavamos às vésperas do meu aniversário. Disse-lhe que sim, que estava disponível, mas que me desse mais detalhes. Então lá me explicou que nesse ano o festival iria homenagear Max Roach, e que o mesmo pediu que se formasse um colectivo de bateristas e percussionistas, um pouco à semelhança do grupo M'Boom, que ele dirigia desde princípios dos anos 70. Senti as pernas a fraquejar, e a adrenalina a subir como um foguete. Max Roach? O Max Roach? Aquele que escreveu várias páginas da história do jazz, junto a nomes como Charlie Parker, Charles Mingus, Dizzie Gillespie, Miles Davis, e tantos outros? Esse Max Roach? Por momentos pensei que estavam a gozar comigo, no entanto lá fui eu no dia indicado, na hora indicada para a Fundação Gulbenkian, onde me encontrei com vários colegas, uns mais íntimos do que outros. Não me vou esquecer nunca do momento em que Max Roach entrou na sala, e eu senti como a sua presença encheu aquela sala. Durante os 3 dias que trabalhámos, foi inacreditável aquilo que produzimos, e eu pessoalmente estava abismado com as coisas que me iam saindo. Num dos temas, Max decidiu pôr-me à frente, dando a entrada de um tema com o meu djembé. O concerto do Colectivo Português de Percussão, dirigido por Max Roach, foi um êxito, e desse colectivo nasceu o grupo Tim-tim por Tum-tum, do qual eu já não fiz parte. Um ano e tal mais tarde voltei a ver Max Roach, num extraordinário espectáculo a duo com o bailarino e coreógrafo americano Bill T. Jones. Fui o único do colectivo a apresentar-se ao espectáculo. No final, ainda de queixo no chão do que acabava de ver e ouvir, fui ao camarim cumprimentá-lo, e timidamente perguntei se ainda se lembrava de mim. Ele sorriu e disse "Ah! Mister Djembé Man!". Foi a última vez que o vi. Para ele fiquei o mr. Djembe Man, mas ele para mim ficou como um encontro místico, muito mais além da música.

Tanto Roach como Zawinul foram dessas figuras que vão de catana à frente, abrindo os caminhos da creatividade e da inovação, para nos deixarem referências, reflexões e pistas a seguir. A estes dois e a alguns poucos mais, tenho-lhes a agradecer terem-me ensinado que mais importante que ser músico, é ser MÚSICA! Mas seguramente, se Deus os chamou, foi para os ouvir tocar!!!
domingo, setembro 30, 2007
segunda-feira, setembro 24, 2007
quarta-feira, setembro 19, 2007
Ser ou não ser...............evidentemente, a grande questão
"Não tentar algo com medo ao fracasso, é como suicidar-se com medo de morrer"
quarta-feira, setembro 05, 2007
quarta-feira, agosto 29, 2007
terça-feira, agosto 28, 2007
segunda-feira, agosto 27, 2007
Fui ver o sol nascer no mar
Fui ver o sol nascer. Farto de estar vazio, senti necessidade de que alguma coisa enchesse e fui ver o sol nascer. Depois de 4 dias sem sair de casa, imerso em mim mesmo, arrastei o corpo pesado para cima da minha bicicleta, desci a rua (tenho o previlégio da praia estar no fim da rua), e fui ver o sol nascer no mar. Para trás deixei o meu quarto, onde me enfiei qual gruta. A mala ainda por desfazer há quase 2 semanas, a desordem de objectos e papéis um pouco por toda a parte, reflexo da minha cabeça. Fui ver o sol nascer no mar. Na esperança que um ou o outro me dessem respostas às minhas perguntas. Ou nem isso, nem é isso o que eu queria, apenas queria sentir-me abraçado. Pensando no abraço veio-me à cabeça a terna memória do abraço do meu filho, o qual tão cedo não terei. Nem poderei chegar ao seu quarto, e enquanto ele dormir, passar a minha mão pelos seus cabelos e face, como tantas vezes o fiz. Tentei imaginar que a luz que o sol começava a despontar me abraçava os olhos, que o marulhar do mar me abraçava os ouvidos, e que o calor e a maresia me abraçavam o corpo com braços de seda. E com o olhar pendurado no horizonte a levante, deixei a cabeça esvaziar, e as memórias desfilarem como um filme, emocionando-me e comocionando-me, como se saíssem de mim para o infinito. Já quisera eu! Que essas memórias me abandonassem, nem que fosse por umas semanas, mas eu sei que não. Seguirão desfilando perante os meus olhos, tão reais que quase posso tocá-las, desfilando como uma projeção de slides animados, com cheiros, toques, aromas, calores, humores e amores. Seguirão suspensas na minha mente, como essa bola de fogo suspensa no horizonte à minha frente. Apertado o meu pescoço no dramatismo lusitano, ao qual não posso escapar, o sol acaba de nascer. E diante de um espectáculo assim, a violenta beleza que espraia à minha frente estrangula-me até quase ficar sem ar, os olhos embaçam-se, o meu corpo amolece, e ouço-me dizer: "Tudo isto é triste! Tudo isto existe! Tudo isto é fado!"
terça-feira, agosto 21, 2007
A quem lhe concerne
Fez chorar de dor o seu amor, um amor tão delicado
Ah, por que você foi fraco assim, assim tão desalmado
Ah, meu coração, que nunca amou não merece ser amado
Vai, meu coração, ouve a razão, usa só sinceridade
Quem semeia vento, diz a razão, colhe sempre tempestade
Vai, meu coração, pede perdão, perdão apaixonado
Vai, porque quem não pede perdão, não é nunca perdoado
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
Vinicius de Moraes
terça-feira, julho 24, 2007
domingo, julho 22, 2007
Pode ser???
Continuo a achar extremamente difícil sair da idade dos porquês
quinta-feira, julho 12, 2007
domingo, julho 08, 2007
quarta-feira, junho 20, 2007
(quase) Sem Palavras
Um beijinho com carinho
sábado, abril 28, 2007
quarta-feira, abril 25, 2007
Para Sempre?????
terça-feira, abril 24, 2007
R.I.P. Nico Assumpção
domingo, abril 22, 2007
Ideias
A democracia e a república foram inventadas pelos gregos há milhares de anos atrás, e pelo vistos as coisas não deram lá muito bom resultado (já naquela altura!). As teses do socialismo e do comunismo datam do século XIX. As ditaduras, já por si inspiradas nas monarquias absolutistas, tiveram o seu auge nos anos 30/40 na Europa (as ibéricas tiveram mais aceitação até mais tarde), e as sulamericanas mais tarde no século XX. Alguém tem mais alguma ideia “nova”? Ou chegou a altura da gente começar a inventar?
quinta-feira, abril 19, 2007
Defesas
Os americanos vivem numa paranoia permanente dum qualquer perigo eminente. Vivem tão paranoicos com isso, que passam a vida a atacar o resto do mundo, preventivamente, dizem. Penso que aqui há dias ficou bem claro, como tinha ficado claro em Columbine, que a única ameaça real da qual eles se têm que defender é deles mesmos. O resto do mundo agradeceria imensamente!
quinta-feira, abril 12, 2007
Silêncio
O sorriso antigo, agora é lágrima barata
A vida não pede licença, e muito menos desculpa
O perdão é o que possibilita o nascimento da culpa
E assim, viajando pelo mundo sem fim
O silêncio planta seu jardim
Tudo se compõe, e se decompõe
Paulinho Moska
quarta-feira, abril 04, 2007
Outras Couves

terça-feira, março 20, 2007
Modelo Primavera
Porquê? Porquê? Porquê?
Se penso, logo existo, o melhor é deixar de pensar tanto, para ver se em vez de só existir, começo a viver! E que o Descartes vá levar na bilha!
domingo, março 18, 2007
domingo, março 11, 2007
Alguém Se Lembra?

O meu pai sempre me disse que o povo tem memória curta. Foi há 32 anos! Ele e a minha mãe estavam fora do país havia 3 dias. Eu lembro-me! Sozinho com a minha avó, vendo aviões de combate a passar de um lado para o outro, e sem saber notícias dos meus pais. Na televisão Spínola fugia, e Vasco Gonçalves triunfava. Em menos de um ano iria virar o país de cabeça para baixo, e quase provocou uma guerra civil, junto aos seus camaradas do Partido Comunista. Alguém se lembra? Eu lembro-me. E ainda me lembro que não há muito tempo veio a lume a estória de documentos confidenciais do governo português dessa altura, foram encontrados na KGB, em Moscovo. E as descolonizações que mais não foram que fugas, deixando os futuros países à sua sorte! E as nacionalizações compulsivas! E os saneamentos compulsivos! Alguém foi acusado formalmente de alta traição? Os brandos costumes reinam impavidamente! Além disso, muito confortavelmente, já se remete estas coisas todas para a história. Isso é história, dizem-me! Vergonhosa, mas história! Pois eu vivi essa história, e nessa altura, como pretenso "filho da revolução", prometeram-me um futuro risonho, para mim, e para todos! Esqueceram-se de me dizer que não era no meu próprio país. A propósito de futuro risonho, há aí alguém desse lado a rir-se? Não, é só para saber!
Nota de redação: Depois de escrever esta posta, dei-me ao trabalho de espreitar os sites de Diário de Notícias, Expresso, Correio da Manhã, Público e Visão. Todos eles tinham como primeira página o 3º aniversário dos atentados de Madrid, que eu também vivi intensamente, com a sorte de estar a 650 km dos acontecimentos, mas à mesmíssima hora dos acontecimentos, eu ia trabalhar num comboio igual àqueles que explodiram, o que não deixou de ser uma experiência arrepiante para mim.
No entanto, relativamente ao 11 de Março de 1975, apenas a Visão dedica um slideshow de fotos da época. Eu pergunto-me (e pergunto ao caro e paciente leitor destas páginas) como é que isto deve ser interpretado?
sábado, março 10, 2007
quarta-feira, março 07, 2007
Rentabilitate!
Oh! Not aGain!
Outras Notas Ganhas
hOje braNcos enGanam
sacamos nOta a quem Não tem baGo
vivemos à cOnta dos toNtos enGanados
neO-coloNialismo de tanGa
VivemOs à graNde, Gamando os pobres
Os Nossos Gandulos
Outro coNto do viGário
(Apaziguando as nossas consciências de uma maneira rentável. Faça já o seu donativo)
sábado, março 03, 2007
Penso........................Rápido?
Pensar é comunicar connosco próprios? Será? Assim sendo, porque é que há tanta gente que não comunica com eles mesmos?
Penso, logo insisto?
Penso, logo isto?
Ou penso logo um quixto?
E existo, ou sou produto da minha própria imaginação?
Lenço, golo e pisto?
Logo penso nisto!
sexta-feira, março 02, 2007
Facilidades & Impossibilidades
(não sei quem é que disse)
Normalidade, ou a Guerra dos Sexos
“Os homens são todos iguais”, “as mulheres são todas iguais”. Segundo George Orwell, os animais são todos iguais, mas há uns que são mais iguais do que outros. No entanto, toda a gente nasce da mesma maneira. De um homem e de uma mulher. Mas, então...........................e os gays e as lésbicas? Ok, reformula-se, nem todos os homens são iguais, nem todas as mulheres são iguais. Quando muito jovens, os homens e as mulheres têm o primeiro grande teste de sobrevivência em sociedade: ser aceite pelos seus pares. Os miúdos pelos miúdos, e as miúdas pelas miúdas. Um miúdo que se dá com miúdas é mariquinhas (nem que seja a própria irmã). Uma miúda que se dá com rapazes é uma maria-rapaz (nem que seja o próprio irmão). Quem não corresponde às expectativas do grupo é cruelmente excluído (é sabido o quão crueis podem ser as crianças). Os anos passam, um rapaz que se dá com raparigas tem saída. Uma rapariga que se dá com rapazes anda saída. Anos mais tarde, um homem que se relaciona maioritariamente com mulheres é gay. Uma mulher que se relaciona maioritariamente com homens é puta. Os excluidos, os eternamente excluidos eventualmente encontram o seu caminho para a felicidade. Caminho esse que acredito que seja o primeiro direito/dever que temos para connosco próprios, homens ou mulheres. Mas dos excluidos já muito se falou e fala. E acerca dos incluidos? Para os incluidos tudo é normal, vivem dentro da normalidade, e actuam em coerência com aquilo que aprenderam dentro dos seus grupos, os homens com os homens, e as mulheres com as mulheres. Mas se ainda não foi notado, a normalidade é um dado estatístico. Quanto mais pessoas houver a actuar de uma mesma maneira, mais normal se torna. Quando foi “legalizado” o divórcio (sim, o divórcio já foi um dia ilegal, tanto como o aborto, e as drogas leves), os primeiros divorciados sofreram um ostracismo atroz da parte dos seus pares. Hoje, têm a compaixão da sociedade, tornou-se portanto, normal. Portanto, passado o primeiro embate de uma nova atitude perante a sociedade, e aguentados todos os insultuosos ataques da mesma, a quantidade de aderência a essa nova atitude, determina se ela passará a ser normal, ou não. Mas voltando à normalidade dos incluidos na sociedade, pergunto-me se essa normalidade tem alguma conotação com a verdade. Porque como dizia Göebbels, o chefe da propaganda nazi do III Reich “Uma mentira repetida muitas vezes, torna-se verdade”. Normalidade igual a verdade? Primeiro dizem-nos que fumar é estar na moda, e quando toda a gente fuma, dizem-nos que provoca o cancro. Primeiro dizem-nos que temos que ganhar muito dinheiro para comprar muita coisa, e agora dizem-nos para não ser tão consumistas porque estamos a esgotar os nossos recursos naturais. Normalidade igual a verdade? Então porque é que a maioria dos homens não percebe nada de mulheres, e a maioria das mulheres não percebe nada de homens? Porque é que as mulheres esperam que todos os homens se comportem de uma mesma maneira, e logo se queixam que eles são todos iguais? Porque é que os homens esperam que as mulheres se comportem todas da mesma maneira, e logo se queixam que elas são todas iguais? Não é isso que é pretendido à partida quando excluem do seu ciclo aqueles que não são normais, sejam gays, lésbicas, ou simplesmente que não se identifiquem com posturas sexistas? Só estou a perguntar, mais nada! Não se enervem!
Ou será que nos sentimos mais seguros connosco próprios quando nos sentimos melhores do que os outros? E na impossibilidade de elevar-nos acima dos outros, cortamos-lhes as pernas, e mandamo-los para baixo, como tão bem o ilustram as anedotas cretinas sobre pretos, ciganos, alentejanos, louras, judeus, tripeiros, lisboetas, brasileiros, portugueses, americanos, ou o que seja que esteja na moda?
Desengane-se quem pensa que com a idade ficamos mais tolerantes à diferença: é mentira! Não ficamos mais tolerantes, ficamos é mais cínicos, isso sim. Como as jovens famílias de classe média daqui, que não deixam os filhos irem brincar para a rua com as outras crianças imigrantes, mas adoptam uma criancinha do 3º mundo, para mostrar aos amigos o quão mente aberta são. Francamente, isto anda a tocar as raias da esquizofrenia colectiva. Depois eu é que sou maluco! O Tom Zé (procurem no Wikipedia ou no Google quem é, se vos interessar) tem uma frase que eu acho fantástica: “Faça as suas orações 3 vezes por dia, depois mande a sua consciência junto com os lençois para a lavandaria”
Mas estávamos a falar de pessoas normais. De homens normais para quem a mulher perfeita deve ser uma mistura entre uma mãe e Angelina Jolie. De mulheres normais para quem o homem perfeito deve ser uma mistura entre pai e Brad Pitt. Qualquer coisa de errado se passou com as mães desses homens, e os pais dessas mulheres, penso eu.
Quantas vezes, depois de estar a falar com uma amiga minha, não tive que ouvir a fantástica frase, que me deixava sempre mudo e quedo: “Ouve lá! Andas a comer aquilo??” Ao ouvir esta frase vinha-me sempre o suave calor carinhoso de um pelotão de skinheads de botas cardadas a passar por cima de mim e da minha amiga.
Eu confesso! Sou homem, sou heterossexual, já passei o que as pessoas normais chamam “a barreira dos 40”, e talvez por isso eu esteja em crise, e precise da vossa ajuda. Alguém me explica o que é, e como é ser normal? É que por vezes tenho um pesadelo horroroso, em que eu e uns quantos amigos meus, somos enfermeiros de um gigantesco hospício chamado normalidade.
Pessoalmente sempre tive fracas esperanças na minha condição de pessoa normal, mas depois de ler o Cântico Negro do José Régio, foi mesmo tudo por água abaixo, e vi-me ao espelho pela primeira vez.
Um muito querido amigo meu, tem duas frases que me serenizam a mente:
1- “Cada um tem que cumprir o seu destino”
2- “Isso não tem importância absolutamente nenhuma”
Bem hajas, João
quarta-feira, fevereiro 28, 2007
quinta-feira, fevereiro 22, 2007
Dúvida Metódica
Continuo a verificar com enorme prazer e carinho que aquilo que escrevo ainda é lido, e seguido, e perseguido, e até apreciado, embora só alguns de vocês se atreva a um comentário, que é sempre benvindo. Sinto uma festinhas carinhosas no ego quando alguém me pede mais constância na escrita. No entanto, ao reler as minhas postas passadas, verifico que na maior parte das vezes apenas dou largas à minha veia contestatária, ou por outras palavras, ao meu mau-feitio, tentando dar largas à tradição medieval das cantigas de escárnio e mal-dizer, que os portugueses em geral são tão exímios, e eu não escapo à regra. Mas também verifico que essas postas são resultado do meu contacto com o mundo real, ou seja, de cada vez que me dá por pôr a cabeça fora do meu casulo, e passear os olhos pelas parangonas dos media, que continuamente me põem mal-disposto. Mas isso passa-se cada vez menos, pois como eu estou ciente do constante bombardeio de informação inútil que os média tão laboriosamente nos porporciona, escudo-me cobardemente, evitando qualquer contacto. A saber, não ouço rádio, não leio jornais (excepto as gordas quando passo por algum quiosque), nem mesmo os gratuitos, e apesar de várias petições do pessoal cá de casa em ligar a antena, a televisão só me serve para me deleitar com um bom filme ou um bom concerto, quando o tempo disponível o permite. Pode ser uma cobardia, mas sinto-me mais feliz assim. Até porque cada vez que tomo contacto com as notícias, verifico que não são novas, são as mesma de há 30 anos, apenas mudam os protagonistas e os cenários. O poder continua igual a si mesmo, e a comportar-se de acordo com aquilo que serve e que cultiva (ele mesmo, e não os cidadãos), os americanos continuam a semear vietnames pelo mundo fora, o povo continua oprimido directa ou indirectamente, visível ou invisivelmente, enfim, como se costuma dizer, tudo na paz do senhor.
E deste ponto de vista, questiono-me a mim próprio sobre o que ando para aqui a escrever durante este tempo todo. Eu que fujo a 7 pés da redundância e da vulgaridade, caio nelas pondo-me para aqui a escarrar o meu mau-feitio, como se fosse numa qualquer taberna de bairro, entre copos de três e sandes de courato. Será que isso me alivia, e me faz sentir melhor comigo mesmo? Sinto-me melhor pessoa por condenar o que está mal, e elevar o que está bem? É possível que sim, mas não me eleva acima da vulgaridade nem da redundância, nem eleva este blog a mais do que uma sanita das minhas excreções mentais, ainda por cima desprovida de autoclismo. Também nunca pretendi que isto fosse um “diário de exílio”, o que então já seria de vomitar. Primeiro porque não estou exilado, e segundo porque me estaria a desrespeitar e aos que me lêem, puxando ao sentimento barato da peninha do rapaz que teve que ir lá para fora lutar pela vida. Eu não luto pela vida, eu tento vivê-la. E na vida há um tempo para tudo! Como dizia a Banda do Casaco na capa do seu excelente último album, “Há mesmo um tempo para que os tempo se voltem a encontrar”. E nesta altura da minha vida, em que estou, é o meu tempo de sentir. Tenho muita coisa em quantidade, qualidade e dimensão para sentir, coisas até muito maiores do que eu, que estou a tentar assimilar da melhor maneira possível. Não é um tempo para explicar seja o que for, nem que seja por um mero impulso verborreico, de quem tem dificuldade de estar calado. É tempo de contemplação, interior e exterior. Delicio-me visitando os blogs de amigos, conhecidos e desconhecidos, como se os fosse visitar às suas casas. A minha, de momento, anda em obras. Por isso a constância da escrita não tem sido lá grande coisa, porque também não tenho grande coisa para dizer. E apesar de todo o respeito e admiração que vos tenho, não me permito tornar-me escravo da vossa leitura. Prefiro neste momento ler e ouvir pessoas que têm na verdade alguma coisa para dizer. A Burra está em dúvida metódica, quando for altura e oportuno zurrar alguma coisa, já se fará notar.
sexta-feira, fevereiro 16, 2007
Orgulho & Vergonha
A situação que me põe sendo de uma nacionalidade, pode ter muito a ver comigo ou não. Conheço pessoas que têm nacionalidade portuguesa, e além de nunca terem pisado Portugal, não fazem a mínima ideia do que lá se passa. No meu caso é diferente, depois de quase uma vida inteira a viver no nosso quintal (como eu gosto de lhe chamar), quer eu queira ou não, sou mesmo português. E isso revela-se quando estupidamente me emociono por uma vitória da nossa seleção, numa atitude extremamente piegas, mas também com o desprezo que tenho em geral pelas instituições portuguesas (salvo honrosas excepções), que no meu entender prestam um fraco, ou mesmo péssimo serviço aos cidadãos e ao país.
Veio ao meu conhecimento o caso do sgtº Luís Matos Gomes, e do caso de tribunal de que, segundo o que me parece, foi vítima! Depois de me tentar enteirar do que se passou, não posso deixar de sentir um orgulho grande de ser da mesma nacionalidade que esse homem, e uma profunda vergonha de pertencer ao mesmo país do tribunal que o condenou, nomeadamente da juíza Fernanda Ventura. E assim somos, como dizia o Agostinho da Silva, um povo contraditório. E é assim que querem que as instituições ganhem o respeito e a confiança dos cidadãos? Acho que deveriam rebaptizar o Ministério, para Ministério da Injustiça, e falar da Injustiça Portuguesa, e dos seus pomposos, ineficazes e facciosos juízes. Por mais lei que a lei seja, se não contempla a humanidade, não serve nenhum povo, nem nenhum país.Tenho dito!
quarta-feira, fevereiro 14, 2007
Eleições???
sábado, fevereiro 10, 2007
Para Não Dizerem Que Ando Calado
domingo, janeiro 07, 2007
Feliz Ano Novo, Feliz Aniversário
Um dos meus gurus fez 60 anos em 2006. Este video não é grande coisa, mas dá para ter uma ideia da arte de João Bosco, que tive o previlégio de conhecer pessoalmente em S.Paulo, em 1998, quando ainda todo eu tremia de emoção do concerto dele que eu tinha presenciado no Tom Brasil. Na altura só se fazia acompanhar de Robertinho Silva na bateria, e do infelizmente desaparecido Nico Assumpção no baixo. Depois do concerto, das fotos e dos autógrafos todos recolheram à base, menos o Nico que veio connosco para a borga. Um luxo!
Consegui vitoriosamente comprar o último dvd que restava na FNAC, do concerto comemorativo dos 60 anos do João Bosco, com esta mesmíssima banda. Fora do Brasil são todos mais ou menos desconhecidos, salvo o percussionista Armando Marçal, que fez parte da que talvez tenha sido a melhor formação do Pat Metheny Group, e que colaborou no disco "Chorinho Feliz" de Mário Laginha e Maria João.
Toca a curtir o som!